sábado, 26 de novembro de 2011

REMANDO CONTRA A CORRENTEZA.



Algumas características são tão arraigadas em minha personalidade, tão 'minhas' que não sei se tem alguma influência do TDAH. Mas, pensando bem, o TDAH está arraigadíssimo em minha personalidade, rsrs.
Uma de minhas características mais marcantes é ser do contra.
Hay gobierno, soy contra!
Comecemos por aí, pela política. Cresci sob os efeitos da ditadura, na minha adolescência era chiquérrimo ser de esquerda, comunista, socialista. Eu era governista. Defendia com unhas e dentes o governo militar. Tive discussões homéricas com amigos por causa de minha posição política. Até contra as diretas já eu fui. E não era por convicções políticas, era pelo prazer de por fogo no circo. Na verdade, minha alma é livre e amo o direito de expressão e as liberdades individuais; mas naquela época eu era contra.
Nunca bebi, e desde sempre, as pessoas próximas tentavam influenciar-me ou convencer-me pra que bebesse. Ninguém jamais conseguiu; não sei o que é um porre ou uma ressaca. Durante cerca de dez anos desfilei num bloco carnavalesco de Juiz de Fora chamado, Domésticas de Luxo. São centenas de homens,
( é proibida a participação de mulheres) todos vestidos de mulher, com o rosto pintado de preto e vestindo uma malha de corpo inteiro preta, inclusive os homens negros que participam. O resultado é hilário, abríamos o desfile oficial do carnaval de Juiz de Fora, com bateria e samba enredo próprios. A cara pintada já era por si, um salvo conduto para aprontarmos. Brincávamos com os homens - principalmente os acompanhados e com cara de sérios; 'disputávamos' o mesmo homem ( o alvo preferido eram os policiais da PM em serviço, que não podiam nem sorrir naqueles tempos de repressão) trocando insultos entre nós e bolsadas para delírio dos milhares de fãs que iam para a avenida só para ver as 'domésticas' passarem. Saía do desfile e seguia para os bailes dos principais clubes de JF, tudo de cara limpa, sem uma gota de nada.
E quanto mais as pessoas tentavam me convencer a beber, mais irredutível eu ficava. Me sobe uma ira santa, uma vontade incontrolável de 'queimar' a língua daquela pessoa.
Normalmente, tenho essas reações com comportamentos padronizados pela sociedade, aquelas modas. Claro que em alguns momentos segui a moda vigente. Nem sempre fui esse ET. Mas os grandes comportamentos me causam repulsa.
O amor quase obrigatório aos animais me incomoda. Tenho uma cadela em casa por causa da Marina. A Prenda está conosco há doze anos e nesses anos todos não aprendi a amá-la. Aliás, acho inconcebível amar uma animal. Amor é um sentimento restrito aos seres humanos. Sei que vão cair de pau em mim, mas o amor aos cães e gatos é um sentimento novo, produzido artificialmente por uma sociedade que não consegue enxergar os seres humanos e devota a um animal o sentimento que deveria ser dirigido ao seu irmão humano. Para se chegar a amar os animais, já deveríamos ter superado todas as anomalias sociais como o preconceito, a discriminação, a fome. Concordo em gênero, número e grau com o Eduardo Dusek em sua canção: Troque seu cachorro por uma criança pobre. Houve um tempo em que essa música fez sucesso, as pessoas entendiam a mensagem de que o amor e o respeito ao ser humano antecedem aos animais.
Claro, não sou a favor do extermínio nem da crueldade com os animais, mas discordo radicalmente desse sentimento de amor e proteção exacerbada aos animais.
Assim é com quase tudo. Odeio o Big Brother. Acho aquilo uma das coisas mais aviltantes e humilhantes que se criaram no mundo. Uma dúzia de idiotas expõem suas vidas e seus comportamentos mais mesquinhos e degradantes em troca de dinheiro e fama. O prazer de quem assiste, creio eu, é ver o ser humano em seu mais baixo grau de degradação moral. Comportamentos desonestos, traições, pequenos golpes baixos, são as armas expostas nesse programa medíocre e baixo.
Assim é com a música sertaneja. A qualidade das letras é rastejante. A sociedade brasileira conformou-se com o que tem de pior. Quem cresceu ouvindo Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Gilberto Gil, entre outros, não pode se conformar em ouvir essa pobreza musical que tomou conta do Brasil. É a mediocrização da música brasileira. Chamar a isso de arte e seus intérpretes de artistas é ofender a arte. São caça níqueis que se aproveitam desse momento triste da vida brasileira para faturar com o nada.
Sei que vão cair de pau em mim. Muita gente me detesta por conta dessas opiniões. Mas esse sou eu. Com ou sem TDAH. E creio que muita gente pensa e sente como eu, mas não tem coragem de externar.
Odeio me sentir membro de uma manada, seguindo a maioria sem saber onde, quando e se vai chegar em algum lugar.
Claro que não sou dono da verdade e todas as minhas teorias podem estar erradas. Mas não me preocupo com isso. Se algum dia eu mudá-las, será por minha própria vontade e não por que passou na Globo.
Posso mudar tudo amanhã. Sou uma versão viva da Metamorfose Ambulante, e não me envergonho disso.

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