domingo, 16 de março de 2025

TDAH: EXISTE VIDA SEM ELE?


" Hoje, em devaneios sem propósito nem dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida, imaginei-me liberto para sempre..."
(O LIVRO DO DESASSOSSEGO - FERNANDO PESSOA) 

Sim, finalmente liberto, no meu caso, liberto da impulsividade, da procrastinaçao, da insatisfação, da inadequação, da...
Em essência me liberto do pacote que me trouxe o TDAH ainda na maternidade. Ou antes dela... 
Começo a viajar por uma vida sem essas características: uma vida de equilíbrio, plena de satisfação e amor próprio. Uma vida planejada, pensada, com tudo a tempo e a hora. Um banho de prazer toma conta de mim. Assim seria minha vida 'normal'. A cada tropeço identifico sua causa e não a repito. Reconheço seus sinais e rapidamente os evito. Sinto um enorme orgulho de mim. 
Ali estou diante de um enorme espelho d'água que reflete a paisagem ao meu redor. Estou em um campo tão perfeito que parece um cenário. Não há moscas, não há buracos, não há ervas daninhas... Nada. Olho ao meu redor e reconheço a paisagem, cada detalhe dela está refletida naquele magnífico espelho d'água. Mas estranhamente eu não apareço na imagem. Tudo ao meu entorno está ali. Cada mínimo detalhe da natureza que me cerca é refletido no espelho d'água. Menos a minha imagem.
Como num sonho absurdo, constato sem a menor surpresa que minha imagem não está refletida ali porque eu não estou presente. Eu não estou naquele cenário.
Eu não sou sem o TDAH. Não existo sem ele. Eu sou ele. 
Li que o álcool faz parte do corpo do vinho, intrínseco a ele...
Pois é. Sou indissociável do TDAH.
Sem ele não existe eu. 
Não há como combater o TDAH. Não há como curá-lo. Não se cura da própria existência ou essência.
Minora-se. Mitiga-se. Reduz-se. Convive-se. 
Combatê-lo. Enfrentá-lo. Derrotá-lo. Jamais! 
Nasce-se com ele, morre-se com ele. 

sábado, 15 de março de 2025

NÃO SOU !






Não sou o corpo no trabalho.
Sou a mente que foge a qualquer centésimo de segundo de oportunidade que se lhe apresente. 
Não sou o corpo cotidiano.
Sou as vidas infinitas vividas nos intervalos da minha mente fugidia. 
Não sou aquele que se dirige ao trabalho. 
Sou a mente que experimenta todas as sensações possíveis da vida. 
Não sou o autômato de cada dia. 
Sou a rebelião ambulante que ferve minha mente convulsionada pelo inconformismo. 
Não sou o repetitivo que veem. 
Sou a metamorfose, da metamorfose. Todas as metamorfoses possíveis na mente inquieta que me dirige. 
Não sou a apatia que carrego. 
Aqui dentro um vulcão em constante erupção me impede definitivamente a apatia. 
Não sou aquele em constante defensiva. 
Sou o impulsivo incorformado, forjado nas vidas que tive e nas que sonhei.
Meu edifício vital é uma amálgama de vidas vividas, vidas sonhadas, vidas sentidas, vidas perdidas... 
Grilhões mentais me prendem a esse edifício que arrasto ao longo da trajetória da vida. 
Não sei se pela idade ou pelo tamanho do edifício a cada dia me parece mais difícil carregá-lo. Mas eu sou ele, e ele sou eu. Não há como desvencilhar-me dele.