Em quase todas as viagens surgem imprevistos e surpresas desagradáveis. Alguns portadores não sabem lidar com essas situações. Chegam a criar resistência à viagens, o que pode causar problemas se o cônjuge ou a família gostam de viajar. Tem cheiro de conflito no ar.
Mas vamos lá, será mesmo que o problema está nos imprevistos de uma viagem? Ou na viagem em si?
Uma das características marcantes do TDAH é a tendência ao isolamento. Seja por críticas recebidas ao longo da vida ou simples fastio de gente, muitos de nós detesta interação social. Odeia sair da segurança do seu ninho. Imagine a tortura em que se transforma uma viagem em família. Não pela família, mas por todo o entorno da viagem. Praias lotadas, pessoas que puxam conversa nas filas, o pagodão comendo solto no boteco da esquina, a gritaria excitada das crianças no apartamento entulhado de traquitanas e parentes, o cunhado que bebe e grita sem parar... E o TDAH sonhando com o último dia daquele inferno para que possa voltar para sua casa, sua TV, seu controle remoto e, acima de tudo, seu isolamento.
Quando sai de casa no primeiro dia de férias, o TDAH já está uma pilha de nervos. À medida que a data fatídica se aproxima a tensão aumenta e uma gigantesca vontade de dizer não e desistir da viagem se apossa dele. Contrariado ele diz sim e segue em frente. Como bom TDAH esqueceu-se de revisar o carro, não se informou direito sobre o melhor caminho, não conferiu antes de sair se a reserva do hotel havia sido confirmada, conforme alertou o funcionário da operadora. Na ante véspera da viagem uma levíssima dor de dente apareceu, e o TDAH procrastinou a visita ao dentista para depois da viagem. O resultado é previsível. O carro quebra, opta-se pelo pior caminho, a reserva não foi feita e o dente dói no meio das férias. O sentimento é de morte pois todos os erros foram fruto do esquecimento ou da negligência, e a culpa é do próprio portador.
Mas a esposa é detalhista e previdente, revisou o carro, escolheu o melhor caminho, confirmou a reserva e obrigou ao marido TDAH ir ao dentista. Ainda assim, imprevistos acontecem, e eles atingem outra característica marcante do TDAH : a absoluta incapacidade de ouvir um não! A absurda dificuldade em cumprir regras e conviver com limites. Imprevisto é um não na cara do TDAH. Não tem vaga! Não pode prosseguir nessa direção! Não posso liberar antes do prazo! Não aceitamos cães !
A cada não o TDAH toma uma bofetada na cara. O não é uma ofensa pessoal e não uma regra a ser cumprida por todos os hóspedes.
A panela de pressão mental vai explodir!
A culpada será sempre a esposa!
O relacionamento volta das férias abalado e o TDAH afirma que aquela foi sua última viagem.
Imagino o desânimo de quem convive com um de nós. Calma, nem tudo está perdido; nem todos somos iguais. Eu, por exemplo, amo viajar. Por mim viajaria 365 dias por ano; e de carro pois adoro dirigir.
Mas de resto, me encaixo em tudo.
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