sexta-feira, 16 de setembro de 2011

VOCÊ JÁ PENSOU NA MORTE?


Recebi ontem um comentário muito pesado. Alguém que preferiu manter-se anônimo narrou rapidamente que o TDAH destruiu sua vida e que o tratamento medicamentoso provoca efeitos colaterais. Sem vislumbrar uma solução ele terminou seu texto afirmando desejar o suicídio.
Quem de nós, portadores, jamais cogitou matar-se?
Confesso que inúmeras vezes, em momentos de forte pressão esse pensamento passou por minha cabeça. Uma solução radical, definitiva, que eliminasse de uma vez por todas meus problemas. Noutras vezes, quando falhei pela enésima vez, quando repeti o mesmo erro e me deparei com o mesmo resultado desastroso, cogitei matar-me como forma de solucionar essa personalidade fraca, incompetente e auto destruidora. Mas uma força interior me impele a seguir adiante. Uma das facetas de minha personalidade é enterrar o passado e continuar meu caminho. Parece-me até uma característica do transtorno; se não aprendemos com os erros, também não nos mortificamos com ele. Mesmo em momentos de maior dor ou pressão segui meu caminho alheio às críticas e agressões a mim dirigidas. Essa característica gera uma outra:; se não me prendo ao passado, também não guardo mágoas ou ódios eternos. Perdoo com extrema facilidade, esqueço as ofensas e sigo a vida. Não sou Madre Tereza de Calcutá mas não existe ninguém nesse mundo que eu odeie ou deseje mal, esqueço e pronto.
Creio que essa facilidade de superar as adversidades me fazem desistir rapidamente do pensamento de suicídio e entristece-me muito quando alguém fala nisso. Como a maioria das atitudes do TDAH essa também tem forte dose de impulsividade e inconsequência, mas com uma pequena diferença não tem possibilidade de arrependimento, não dá pra voltar atrás.
Se o transtorno nos trás enormes problemas, possuímos uma força incomum para superá-los, uma capacidade quase infinita de reerguermo-nos e superar os problemas que criamos. Desenvolvemos formas de auto controle e convívio com o TDAH que nos fazem superar e em alguns casos (poucos é verdade) dominá-lo quase completamente.
Relembrando meus desejos de auto destruição veio-me à mente um sentimento, ou revivi um sentimento que habitou-me naqueles momentos em que flertei com a morte; auto piedade. Sim, eu pensava que morrendo ainda jovem causaria profundo impacto nas pessoas, meu velório estaria lotado, pessoas perplexas e incrédulas sentiriam pena e tristeza pelo fim de uma vida tão jovem. Uma fortíssima prova de que eu era sim uma pessoa querida e respeitada.
Hoje, esse é um sentimento raríssimo em minha vida. Claro, às vezes tenho vontade de dirigir em altíssima velocidade em direção a um abismo, ou um obstáculo intransponível. Mas isso é uma fração de segundo, nem chega a ser um desejo, um pensamento idiota como tantos que pululam em minha mente revolta.
Vivamos, uma hora alguém descobre a cura dessa porcaria, ou um remédio que o mantenha sob controle rígido e poderemos desfrutar de uma vida nova, cor de rosa. Afinal, para nós que conseguimos sobreviver ao TDAH viver a vida sem carregá-lo nas costas vai ser uma moleza.
Não podemos nos esquecer de que o inverno é sucedido pela primavera, uma estação riquíssima em vida, uma celebração à capacidade de quem sobreviveu ao período de frio intenso.
Erga-se, sempre haverá motivos para viver.

21 comentários:

  1. Alexandre,
    Não ganhei na loteria, mas achei o seu blog. Confesso que foi bem melhor. Parabéns, parabéns, parabéns. Estou extremamente encantado em ler o seu texto. Também tenho o T...Descobri aos 44 anos, em função do meu filho caçula. Olho para ele e vislumbro o meu passado.
    Enxerguei-me completamente quando vc disse "Uma das facetas de minha personalidade é enterrar o passado (até)... mas não existe ninguém nesse mundo que eu odeie ou deseje mal, esqueço e pronto. Sensacional. Creio que estou começando a fazer terapia lendo seu texto. Pena você estar tão longe. Mais uma vez, parabéns!
    Marcus

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  2. Poxa, Marcus, acho que esse foi o maior elogio que já recebi sobre meu blog.Muito obrigado.
    Esse blog é uma catarse, um retrato da minha alma, e os comentários me dão coragem pra continuar; confesso que tem hora que dá uma enorme vontade de abandoná-lo.
    Obrigado pela força, se eu puder ajudá-lo em algo, conte comigo;
    Um abraço

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  3. Olá, estou descobrindo aos 57 anos que sofro do disturbio TDAH, em fase de descobertas. Gostei de ter respostas para várias questões e sofrimentos, mas ainda não sei não... estou lutando contra a vontade de deixar prá lá!

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  4. Oi, Ivan!
    É uma decisão difícil, mas posso lhe adiantar uma coisa: por pior que seja o tratamento não é pior do que conviver com nossos erros de TDAH.
    Vá em frente, dê-se uma chance.
    Um grande abraço
    Alexandre

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  5. Oi tenho 35 anos e descobri a menos de 2 anos que sofro desse distúrbios,me canso muito fácil das coisas que faço, e isso me traz uma série de problemas. Já pensei em fazer outras faculdades, mas sei que a minha formação em direito é a que me realiza.
    Tinha muitos pensamentos pessimistas mas com o auto conhecimento e com a ajuda de alguns livros melhorei mais de 70% por cento a frequência dos meus pensamentos, você sabe nossos pensamentos são algo difícil de manter alinhados, eles escapam e nos tiram de órbita como num passe de mágica.
    Adorei o blog.
    Um abraço.

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  6. Aaaaaaaaaa...

    que babaquisse...

    TDAH - DDA - ADHD - ADD, é um dom...

    Leia o livro Wayseers.

    Essa vida cor de rosa que você tanto deseja, é fácil.

    Basta ser você mesmo, ou seja, ser aquilo que você nunca foi, você...

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  7. Em primeiro lugar você deveria respeitar o direito de expressão dos outros, principalmente quando se esconde no anonimato.
    Em segundo lugar, seu comentário demonstra a ignorância típica da maioria das pessoas que querem combater uma doença reconhecida pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.
    Eu sou eu mesmo e tenho coragem o bastante para me expor e não fazer comentários torpes escondido sob o manto do anonimato.
    Alexandre

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  8. Não queria escrever isso, mas me desculpem, preciso desabafar com alguém. Descobri o TDAH no início do ano (acompanhado de bipolaridade, depressão e ansiedade), tenho 15 anos e ao ouvir minha mãe e pessoas ao meu redor cobrando de mim coisas que eu não consigo fazer, me sinto mais inútil. Antes eu tinha medo do suicídio, agora, só não o faço devido ao mesmo motivo citado no seu texto, auto-piedade. Mas, sinceramente, acho que não há mais "amor" entre eu e minha família, eu sou um peso morto que gasta o dinheiro (que foi resultado de trabalho suado) dos meus pais, minha mãe queria ( e quer) que eu fosse como meus outros primos, "os xodós da família." Ano passado estudei muito para ser admitido em uma escola técnica, o resultado: não passei, e todos ao meu redor afirmam que eu não me esforcei. Após isso entrei em depressão, me lembrava dessa desgraça e começava a chorar. Estou cada vez mais desejando o suicídio ( provavelmente, muitos de vocês vão achar que eu sou um chorão de merda que só escreve as coisas) a pressão é muita. Já percebi que não terei sucesso na vida, muito menos serei feliz...
    Me perdoem por postar isso, eu precisei desabafar.

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    1. Boa noite, amigo.
      Em primeiro lugar, você tem de pensar naquilo que é a felicidade. Ser feliz é ser rico, famoso, reconhecido ou simplesmente fazer o que gosta e viver com quem se gosta? Em 2004 fiz um cruzeiro marítimo às ilhas gregas partindo de Veneza; gastava dinheiro sem precisar fazer muitas contas; tinha uma empresa que chegou a ter 30 empregados. Hoje, sou técnico em manutenção de celulares em uma empresa que é um pouco maior do que uma cama de casal King Size, faço conta de quase tudo o que gasto, mas sou muito mais feliz.
      Tente conversar com seus pais e mostre a eles que o TDAH te faz uma pessoa diferente e que dificilmente você vai se enquadrar nos modelos tradicionais.
      Se não der certo, foda-se, viva a vida assim mesmo.
      Os pais, em geral, desejam o melhor pra gente, mas nem sempre o desejo deles é o mesmo nosso e aí entra a cobrança.
      Você não disse se faz o tratamento com ritalina ou outro medicamento.
      Cara, pra um garoto de 15 anos você escreve muito bem, muito melhor do que a maioria das pessoas que me escrevem. Você lê muito? Você deveria escrever um blog, tem algum assunto que você goste particularmente? Sei lá, futebol, política, mulher, dinossauro, comida...
      Ponha isso pra fora!
      Lembre-se, você tem de cumprir suas expectativa internas e não de seus pais.
      Escreva! Você é bom nisso.
      Enriqueça sua vida, sua alma, pensar em suicídio faz parte da nossa vida, mas se você não cumpriu até agora é por que você se ama e vai se amar muito mais depois que encontrar seu caminho.
      Levante a cabeça, e vai por mim, sua escrita é acima da média, você se expressa bem e com correção. Explore isso. Preste atenção, meu blog tem quase 40.000 acessos em pouco mais de um ano e é um tema difícil e pouco conhecido, se você encontrar o seu tema, você pode ter um blog ou site de sucesso e transformá-lo em dinheiro, fama e reconhecimento. Mesmo de TDAH se for essa sua vontade.
      Pense com carinho, você é muito bom com as palavras.
      Um grande abraço!
      Alexandre

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  9. Muito obrigado por me ajudar e ajudar outras dezenas/centenas/milhares de pessoas! Fui eu quem escreveu o último comentário... realmente, é difícil conviver com esse trastorno, além da dificuldade para prestar atenção nas aulas, também sofro com as mudanças de humor constantes. E respondendo sua pergunta: Tomo um medicamento chamado Floral, como sou muito ansioso não tomo Ritalina por medo dos efeitos colaterais.
    Seu blog me ajudou muito, conversei com meus pais e vamos aprofundar no transtorno, uma vez que meu pai também é suspeito de ter o mesmo. Também sou de Minas Gerais, e gostaria muito de ter uma consulta com a Dra. Valéria Modesto Leal. Poderia me passar umas informações sobre a consulta com ela? Muito obrigado e grande abraço!

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  10. Oi Vinicius, bom dia!
    Que legal, cara, bom saber que vc e seus pais estão juntos na solução desse nosso problema;tudo fica mais fácil ao lado deles.
    No alto do site tem um link para o site da dra. Valéria, ali vc encontra endereço, telefone, etc.
    Uma consulta com ela é uma experiência diferente de todos os médicos que vc conheceu; dura cerca de três horas a primeira consulta. Foi a primeira médica que conheci que enxerga o ser humano antes do paciente.
    Quanto a valores eu não sei, mas ela não atende a convênios - ninguém é perfeito, rsrs -mas também nenhum convênio cobre consultas com três horas de duração.
    Entre em contato com ela, vale muito à pena.
    Quanto à ritalina, acho que vale uma tentativa, a ansiedade é uma característica nossa. Eu sou fã da ritalina, creio que não conseguiria fazer o que faço sem ela.
    Um abraço
    Alexandre
    PS. escreva quando quiser

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  11. Ontem à noite meu amigo de infância suicidou-se. TDAH, dentre outras neuropatologias. Fica a dor, a dúvida, e certa culpa. Será que fizemos tudo ao alcance para evitar esse desfecho?

    Seria muito bom se todos parassem de ver questões neurológicas e neuroquímicas como desvios de caráter e não desvios orgânicos, merecedores de tratamento.

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    1. Que barra, hein meu amigo!
      Na verdade a doença mental sofre de mais de um grande preconceito. Ou é objeto de repulsa quando o doente externa sua fragilidade mental ou como nós TDAHs que conseguimos levar uma vida quase normal e somos taxados de irresponsáveis, cretinos e insensíveis.
      Esse é o ser humano, agride os diferentes até descobrir a diferença em si ou próxima.
      Não se torture, dificilmente conseguimos evitar esse tipo de desfecho. A tortura mental é muito, muito grande e sofrida.
      Um abraço
      Alexandre

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  12. Li tudo chorando, é muita pressão, tenho 38 anos e não to conseguindo fazer o que preciso, é muita pressão por todos os lados, escrevo isso chorando.

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    1. Ah, eu aparecí como Unknown, meu nome é Áthila, se puder me mande um e-mail. atthilla@hotmail.com

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    2. Oi Atthila, a cobrança em cima de quem sai do roteiro estabelecido pela sociedade dita normal é muito forte e, em geral, somos muito sensíveis a essas pressões. Aprendi com meu amigo 'Frank Slade' que o TDAH que nos derruba é o mesmo que nos dá força para que nos ergamos. Vc não mencionou se faz algum tratamento, se não, faça. Assuma as rédeas da sua vida.
      Um abraço

      Alexandre
      Se preferir, made um email com suas dúvidas que te respondo: schubertsax@gmail.com

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  13. moro em Cuiabá MT, tenho todos os sintomas de um TDAH. Gostaria de consultar com alguém mas me vejo, sem forças e também nem sei por onde começar.

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  14. Ola galera!
    Poxa que saco essa droga de tdah...
    Seremos nós condenados por Deus, junto com as pessoas sem problemas neurológicos?
    Que raiva já tentei o tratamento com ritalina, outros comprimidos, e até a psicoterapia. O começo de tudo é sempre muito bom... mas não vinga, as forças são bloqueadas.
    Pedi demissão do emprego, dai perdi meu convenio. E em que lugar publico do Brasil a tratamento pra isso?
    O suicídio sempre me atormentou a noite inteira, sempre me chamando pra dançar, mas olha só, nem sei dançar kkkkkk
    Torço por vcs amigos, acho que nessas horas não ah outro a não ser Deus para nos compreender.

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  15. O TDAH destrói todas os meus dias, não consigo trabalhar e nem estudar direito e tenho quase certeza que estou com depressão, pesquiso textos, vídeos e imagens de suicídio, só quero para de ter autopiedade e resolver meus problemas, porque eles estão me matando

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  16. O TDAH é praticamente uma sentença condenatória. É difícil lidar com ela. Hoje sofro as consequências. Mas o pior de tudo é a incompreensão das pessoas. Todos pensam que você é burro, irresponsável, que não quer estudar. Enquanto que vários colegas da escola tinham sonhos de viajar para Disney, eu só queria saber como era estudar e aprender. Meu maior sonho foi sempre tirar notas boas, mas... . Meus pais tiveram uma papel fundamental no meu fracasso. E o que me deixa mais triste é que eles sabiam todos os sintomas que eu apresentava e não enxergavam que eu precisava de ajuda. Estudar com eles foi traumático pra mim. Apanhei muito e no final das contas não aprendia nada. Era complicado. Meus pais querer que eu apendesse era a mesma coisa que você obrigar o paraplégico a andar. O TDAH foi e será uma tragédia na minha vida.

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    1. Ola Davi!
      Você é TDAH, e ponto final!
      O que fazer com isso? Trate-se! Essa é a única maneira de melhorar sua vida. O passado, Davi, não existe mais e você não pode muda-lo. Mude seu futuro, esse sim você tem poder sobre ele.
      Um grande abraço
      Alexandre

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