quarta-feira, 2 de maio de 2012

DE NOVO, O RETRAIMENTO DO TDAH







Tem sido recorrente no blog os comentários de adolescentes - principalmente homens - que sentem dificuldade de relacionar-se com outras pessoas. Particularmente as meninas.
Sabemos que o TDAH tem como uma de suas características o isolamento de seus portadores; focamos em nossos defeitos, em nossas falhas e acabamos nos sentindo inferiores, desqualificados  e insuficientes.
O resultado disso é um monte de gente se  retraindo pois teme ser ridicularizado por suas falhas de memória, desatenção e sentimento de inadequação.
Em primeiro lugar, tratar-se. O tratamento medicamentoso com suporte de coaching ou psicológico é o caminho mais rápido e eficiente para solucionar esses problemas. Mas existem atitudes que podem melhorar esses sentimentos.
Crie estratégias de convivência. Outro dia, numa troca de comentários nesse blog um portador sugeriu a outro que malhasse. Ter um corpo malhado e saudável atrai garotas e acaba virando assunto com os amigos e conhecidos de academia e escola. O que você fez para ganhar toda essa massa, qual sua alimentação, qual sua  carga, etc, etc. Você acaba tendo assunto. Outro sugeriu a dança. Dance bem, destaque-se como bom dançarino e você chamará a atenção. Aprofunde-se sobre um assunto que você goste, música por exemplo, vai fazer teatro, aprender street dance, seja um ás do vídeo game, diferencie-se e chame a atenção sobre si.
Outra coisa importante, se seus amigos não te aceitam como você é ou gozam a sua cara por seus lapsos de memória, troque de amigos. Mude de tribo. Lembrei-me agora de um caso extremo mas bastante ilustrativo; tenho uma prima com uma séria deficiência auditiva. Por mais de 30 anos ela  viveu semi reclusa, convivendo quase que exclusivamente com a família. Sei lá por que, ela resolveu fazer um curso de Libra ( aquela linguagem de sinais). Esse curso mudou sua vida. Ali ela conheceu várias pessoas com deficiências semelhantes, mas que levavam vidas completamente diferentes, com muito mais perspectivas e prazer. Isso tem uns oito ou dez anos. Hoje ela trabalha, namora, viaja com os amigos; nasceu pra vida. Eu nunca imaginei que existissem empregos para quem tem deficiência auditiva, ela trabalha numa malharia numa área com muito ruído, só com pessoas deficientes auditivas. Pois é, há mercado pra tudo nesse mundo.
Não podemos simplesmente abaixar a cabeça e deixar o TDAH tomar conta da gente.
Pense se seus amigos, são mesmo seus amigos.
Pense se você só é isso mesmo que você enxerga.
O principal é tratar-se, amar-se e querer mudar sua vida.
Quando eu leio um comentário no meu blog eu fico feliz: essa pessoa está procurando um caminho, está se enxergando. Isso é uma luz no fim do túnel, penso eu.
Foi assim que comecei, pesquisando, aprendendo sobre o TDAH. Mas fui atrás de ajuda, procurei a Dra. Valéria Modesto que me ministrou a ritalina e apresentou-me ao coaching, através da Luciana Fiel e elas mudaram minha vida.
Procure ajuda, médica, psicológica, amiga, fraterna, você vai descobrir que não está só. Somos muitos, muito intensos, muito criativos e podemos ser grandes amigos, amantes e parceiros. Basta que queiramos.





PS.: Atenção, ficar sarado é fazer exercícios, malhar, suar a camisa.  Se você optar por tomar bomba, pode ser que muito rápido você esteja rodeado de gente; em seu velório. Nós TDAH temos o péssimo hábito de querer tudo pra ontem e pelo caminho mais fácil.

12 comentários:

  1. Como sempre, adorei seu post! Mas esse está especialmente positivo e com uma mensagem muito positiva, gostei muito!
    Quando eu era mais nova, a última coisa que eu tinha eram problemas de relacionamento.
    Ultimamente, a coisa foi se agravando até o ponto de eu me tornar quase uma reclusa no trabalho e isso me prejudicou muito.
    Agora, nos últimos tempos, é que as coisas mudaram, e pra melhor.
    Adorei a história da sua prima, desejo muito sucesso pra ela!
    Beijos!

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    1. Oi, Avoada, obrigado por seus comentários.
      Minha reclusão tem aumentado com minha nova profissão. Antes eu ficava na dianteira de uma empresa que chegou a ter 30 funcionários; hoje não, me recolho em minha sala onde 'viajo' naqueles aparelhos e nessa empresa eu correspondo a 50% dos funcionários. Meu universo foi drasticamente reduzido. E eu adorei, kkkk.
      Beijos
      Alexandre

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  2. Parabens pela mensagem desse post,putz garoto vc deveria escrever um livro dessas postagens.Pense nisso. Grande abraço. AH estou de volta ao consultório.
    Wal.Amiga de sempre.

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    1. Wal, obrigado pelo 'garoto' adorei. kkkkkk
      Adorei ainda mais sua volta ao consultório, parabéns a vc e à Valéria por isso.
      Bjs
      Alexandre

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  3. bem acontece uma coisa comigo... acho que é do tdah.eu sou muito sensivel , isso ta me fazendo muito mal , sou muito apegado as pessoas. Necessito sempre de atenção , sou ignorado , levo cortes... é tenso viiuu . Não sei , mais isso so acontece comigo, acontece com vocês também?
    Gosto de dar atenção a todo mundo , mais nem sempre isso acontece comigo eu sou muito humilde tipo , trato todo mundo igual me entende? mais nem todo mundo quer dar essa atenção. sou muito estranho em relação a isso. alguém pode me dar uma opinião ou algo do tipo? Agradeço muito ! Obrigado

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    1. Oi, amigo. Não sei se fui muito sensível, creio que fui muito suscetível. Tudo me ofendia ou chateava, eu ficava magoado, entristecido. Com o tempo isso foi melhorando. Quanto a ser humilde, eu também sou e sempre tratei a todos igualmente, acho isso uma virtude. Claro, como todo comportamento tem quem não goste, mas sinceramente, eu pouco me importo com quem não gosta dos meus comportamentos.
      Na verdade eu sempre gostei de ser diferente, até hoje adoro andar na contramão, sinto-me bem nadando contra a correnteza. Como dizia Nélson Rodrigues a unanimidade é burra. Assuma sua diferença e corte de suas amizades quem não te entende.
      Um abraço
      Alexandre

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  4. Ainda não achei a solução para me dar bem com relacionamentos...mas ter a certeza de que amigos e família faz a diferença, aah, isso siim...
    Espero um dia poder gostar por simplesmente gostar de alguém...

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    1. Não existe uma fórmula. Ou existe, é ser você mesmo e procurar conviver com quem goste, aceite e tenha prazer em conviver com você. Relacionamentos devem ser prazerosos para ambas as partes, se não forem, não valem a pena.
      Não se preocupe, vai chegar o dia e a pessoa certa.
      Um abraço
      Alexandre

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  5. Bem estou sem o uso da Ritalina desde o final do ano passado.Não por eu queira, sim porque meus pais não tem tido tempo pra marcar um medico bom , até porque não existe nenhum medico especializado nessa area que possa me fornecer a receita do Metilfenidato nem um acompahamento pois moro em cidade pequena. Por estar sem a Ritalina minhas notas na escola cairam muuuito , tem materias que nem nota eu tenho, não consigo ir bem nas provas, esqueço de fazer a tarefa, não entendo nada que o professor fala , vocês sabem todos aqueles problemas que um Tdah enfrenta.. Se com a Ritalina ja é dificil imagine sem? Então , agora minha mãe está uma "fera" comigo reclamando que eu não faço nada certo, não estudo e estamos em Maio ainda e já acho que vou reprovar... Acha certo a atitude dela ? é muito dificil,é muuita pressão, muuitas coisas pra estudar , já estou ficando louco...kkkk quem puder comentar algo agradeço ! Abração

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    1. Meu amigo, é muito difícil opinar quando existe família envolvida. Não sei sua idade e que tipo de relacionamento você tem com seus pais, mas se você encontrou meu blog é por que procura e quer ajuda. Acho que a melhor solução é sentar com seus pais e ter uma conversa franca e aberta sobre seu real prejuízo sem o medicamento. Tente mostrar esse e outros blogs sobre o assunto, quem sabe eles enxergando o que passamos, passem a entender melhor sua necessidade de tratamento.
      Agora, se você já está na adolescência, já pode até votar, levante-se e procure você mesmo o médico que antes lhe dava as receitas da ritinha. Assuma o comando de sua vida e surpreenda seus pais.
      Um grande abraço
      Alexandre

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  6. Oi Alexandre, fazia tempo que nao vinha aqui, gosto mto de ler seus post. Eu vim aqui p/ dizer que eu acabei me separando do meu ex marido que tem TDAH, eu juro que tentei e não medi esforços p/ compreender, relevar, me fiz de surda, muda, marquei consulta, comprei Ritalina e ... tudo em vão. Meu ex marido conseguiu acabar com minha auto estima e antes que isso me destruísse, desisti. É triste, pq nos separamos e ao mesmo tempo ainda nos amamos, mas o meu amor próprio falou mais alto, meus amigos, minha família, não aguentava mais meus picos de desespero e choro. Deu. Teve um dia que ele me disse coisas tão, mas tão pesadas que eu pensei...eu não preciso disso na minha vida! Nossa filha é pequena, pensei mto nela, mas não teve jeito. Eu vivia uma ciranda viva, altos e baixos e por fim, a gota d´água, ele me fez me sentir mto humilhada. Alexandre, você tem idéia de onde os parceiros, familiares de portadores podem se socorrer? onde pedir ajuda? eu senti falta disso, não achei nenhuma ajuda p/ mim. É triste. um gde abraço.

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    1. Oi, amiga. Em primeiro lugar não se culpe, é realmente muito difícil conviver com o TDAH. Falamos e fazemos o que às vezes não queremos, ou simplesmente não temos a sensibilidade de avaliar os efeitos do que fazemos e dizemos.
      Sou um excelente marido, caseiro, carinhoso, ajudo nas tarefas, mas de vez em quando uma 'criatura se apossa de mim' e faço e/ou falo coisas de que me arrependo. Gasto muita energia tentando reparar os erros, minha mulher aceita, mas eu sinto que o alicerce do nosso relacionamento está cheio de trincas e em processo de desmanche. Já vi esse filme, mas não consigo fazer diferente. Falta um filtro, sei lá, algo que amorteça nossas reações durante uma discussão. Quando provocados, quando pressionados, explodimos de uma maneira completamente desproporcional e irracional.
      O TDAH é uma doença subestimada e até mesmo desprezada no Brasil. Aqui em Juiz de Fora, existe um grupo de apoio aos familiares liderado pela Dra. Valéria Modesto e a Coach Luciana Fiel. Em BH existe uma psicóloga que está implantando esse conceito de tratamento de TDAH criado aqui em JF. Em outras cidades desconheço se existem iniciativas semelhantes.
      Como diz a música Fera Ferida: eu sei que flores existiram, mas que não resistiram a vendavais constantes...
      Ontem recebi um comentário de um portador que afirma que preferiu ficar sozinho do que continuar machucando quem ele ama.
      Não se culpe, quem sabe a dor da perda sirva de alavanca para que seu ex marido dê uma virada na vida dele .
      Um abraço e muita força nessa nova etapa de sua vida com sua filhinha.
      Seja feliz!
      Alexandre

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