domingo, 4 de agosto de 2013
O TDAH E O DESINTERESSE DOENTIO
Existe uma música velhíssima, se não me engano do Erasmo Carlos, que diz assim:
Vejo caminhões
E carros apressados
A passar por mim
Estou sentado à beira
De um caminho
Que não tem mais fim...
E os carros passam. E passam os caminhões. E a vida passa.
E continua-se, ali, sentado à beira do caminho.
Nem a poeira ou a chuva despertam a vontade de sair.
Preguiça?
Não. Desinteresse.
Seguir a estrada ou ficar à margem dela; qual a diferença?
Nenhuma.
Ao cobrir-se de pó, uma hora será lavado pela chuva; se esta esfria, pode ser coberta - novamente- pelo pó.
Seguir a estrada?
Proteger os olhos que ardem?
Passam mais carros ou mais caminhões?
Tanto faz...
As vezes, num vislumbre, um rosto chama a atenção dentro de um daqueles veículos.
Mas passou tão rápido...
Carona? Não precisa... Espera... Sim, espera... Não importa...
Um súbito ímpeto de erguer-se; mas, pra quê?
Olha pra trás e enxerga no início da estrada a criança agitada, curiosa, que pensava que o mundo conseguiria abraçar. Onde foi parar?
Quem sabe num dos desvios de dopamina do cérebro confuso.
Numa das falhas geológicas da memória.
Ou derreteu-se nas lavas incandescentes de um acesso de raiva.
Talvez, não a reconheça mais por culpa do pó que estragou os olhos.
Mas essa criança curiosa existiu mesmo ou é apenas cria de sua memória indomável?
Não faz diferença...
Nunca fez...
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Tem essa música também, do Arnaldo Antunes
ResponderExcluirSocorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...
Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Socorro!
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro! Eu já não sinto nada...
Não conhecia essa música, tem tudo a ver.
ExcluirObrigado pela contribuição
Abraço
Alexandre
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNooooooooooooooossssssa!
ResponderExcluirLendo esse post lembrei tb da música acima.
Mas vou dizer uma coisa pra vc... já usei a letra de "Socorro" pra tentar explicar-me na terapia.
Mas com esse post certeza vai! Agora sim!
"Carona? Não precisa... Espera... Sim, espera... Não importa...
Um súbito ímpeto de erguer-se; mas, pra quê? "
PERFEITO!
Vou usar isso assim que conseguir dinheiro pra voltar pra terapia! hahahhah Não que eu tenha muitas perspectivas, veja bem... é tudo tão... tão... Zzzzzz...
Mas pelo menos já terei exatamente e precisamente o que dizer diante da fatídica pergunta: "o que a traz aqui?"
Grande abraço!!!!
Oi Ana, legal seu comentário.
ExcluirGostei mais do tudo tão Zzzzzzzzz.
Abração
Alexandre
me identifico com esta:
ResponderExcluirToda vez que te olho
Crio um romance
Te persigo, mudo
todos instantes
Falo pouco pois não
sou de dar indiretas
Me arrependo do que digo
em frases incertas
Se eu tento ser direto, o medo me ataca
sem poder nada fazer
Sei que tento me vencer e acabar com a mudez
Quando eu chego perto, tudo esqueço
e não tenho vez
Me consolo, foi errado o momento, talvez
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez
Eu carrego comigo a grande agonia
De pensar em você, toda hora do dia
Eu carrego comigo, a grande agonia
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Talvez escreva um poema
No qual grite o seu nome
Nem sei se vale a pena
Talvez só telefone
Eu me ensaio, mas nada sai
O seu rosto me distrai
E, como um raio,
eu encubro , eu disfarço
eu camuflo, eu desfaço
Eu respiro bem fundo
Hoje digo pro mundo
Mudei rosto e imagem
Mas você me sorriu
Lá se foi minha coragem
Você me inibiu
Afffff Maria...
Excluirhahhahahahaha
ExcluirVocê ri, né!
ExcluirComo foi falado no outro post, fui uma criança que me interessava por tudo, gostava até de estudar, rs. Depois da adolescência, começou, sem motivo esse desinteresse por tudo e todos, e que só tendeu a piorar. Quando entramos na vida adulta, é normal ir abandonando alguns interesses que tinhamos quando éramos mais novos, para nos dedicar às obrigações. Mas um desinteresse "doentio" que nos deixa alienados, indiferentes e até insensíveis ao que acontece na nossa frente, na nossa casa, e no mundo é sinal que algo não está bem.
ResponderExcluirEssa indiferença é fruto do TDAH.
ExcluirO tratamento tem o poder de melhorar muito isso. Trate-se.
Abraços
Alexandre
Sempre pensei que essa indiferença é só do meu caráter, nunca imaginei que outra coisa podia colaborar com isso. Mas lembro de ter visto no Fantástico, naquela breve reportagem sobre o tdah, lembro que o rapaz dizia que "não queria saber de nada". Aí pensei que podia ter algo a ver.
ExcluirBem vindo ao mundo TDAH!
ExcluirPessoal, só quero saber de uma coisa. ritalina, ou qualquer remédio pra problemas de concentração faz a gente ir melhor nos estudos? Estou há 6 anos fazendo engenharia na utfpr (antigo cefet) e não consigo ir pra frente. Estou frustrado, já tentei estudar de várias maneiras, mas não consigo por mais que me esforçe. Levo uma eternidade pra entender um conceito, que alguns colegas entendem na hora. Já estou no desespero, pois estou tendo dificuldade até em materias como filosofia ou sociologia, que todo mundo diz que é mais facil. To pensando em procurar um psiquiatra-neurologista pra ver se é algum problema. Estes dias falei com um professor sobre minhas dificuldades, e ele falou pra mim mudar de curso, eu queria ouvir um incentivo, isto me deixou muito mal. Este ano já esta praticamente perdido, se em 2014 eu não melhorar, vou trancar ou desistir mesmo. Ando pensando tanto sobre este meu problema, que tenho medo de ficar com depressão. é duro ver teus colegas se formando, arranjando trabalho, e eu ainda lá.
ResponderExcluirC.
C. se seu problema for TDAH a Ritalina é ótima, se não, você precisa de uma psicóloga, ou coisa que o valha.
ExcluirO ideal é que você procure um neurologista ou psiquiatra que trate TDAH e faça os testes.
Abraços
Alexandre
Alexandre, obrigado pela atenção. Fiquei com medo do pessoal achar que eu era um daqueles caras que só querem um remédio pra "turbinar cerebro". Não é o meu caso, desde criança sou meio devagar na escola. Vou procurar um médico sim.
ExcluirC.
Essa é, realmente, a melhor decisão.
ExcluirBoa sorte e um grande abraço
Alexandre
da um tapinha que vc entende tudo kkk
Excluirsó n garanto q vai lenbrar
Pessoal me tire uma dúvida: Eu não tenho problemas com concentração, ou com leitura e aprendizado.
ResponderExcluirEu tenho tendência fortíssima de abandonar projetos. Eu começo e não termino.
iai? isso é sintoma de tdah? a ritalina resolve isso, ou seria mais um caso para coach mesmo?
thank you!!!!!
Júlia.
Júlia, o ideal é a soma disso tudo. A Ritalina rearranja sua dopamina e o coach reprograma sua mente.
ExcluirE sim, é um forte sintoma de TDAH.
Abraços
Alexandre
Um clássico dos Bee Gees:
ResponderExcluirI started a Joke (Eu comecei uma piada)
Eu comecei uma piada
Que fez o mundo inteiro chorar
Mas eu não vi
Que a piada era sobre mim
Eu comecei a chorar
O que fez o mundo inteiro rir
Oh, se eu apenas tivesse visto
Que a piada era sobre mim...
Eu olhei para o céu
Passando as mãos sobre meus olhos
E eu caí da cama
Ferindo a cabeça com coisas que eu disse
Até que eu finalmente morri,
o que fez o mundo inteiro viver
Oh, se eu apenas tivesse visto que a piada era sobre mim...
Eu olhei para o céu
Passando as mãos
Sobre meus olhos
E eu caí da cama
Ferindo a cabeça com coisas que eu disse
Até que eu finalmente morri,
O que fez o mundo inteiro viver
Oh, se eu apenas tivesse visto que a piada era sobre mim...
Oh não! Que a piada era sobre mim...
Achei que tinha a ver, rsrs.
Abração!
Muito bonita a letra, e triste...
ExcluirA música é belíssima.
Obrigado por sua contribuição.
Abraços
Alexandre
quantas músicas... mais uma, em parte lembra tmb.
ResponderExcluirmetade - Adriana Calcanhoto
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?.
Música nunca é demais e a sua contribuição é ótima; adoro essa música e a Adriana Calcanhoto.
ExcluirObrigado
Alexandre
Alexandre, você faz serviço de "Pombo Correio"?
ResponderExcluirÉ que tem uma "Maria" que entrou neste blog informando que tinha 50 anos, que estava descobrindo o TDAH agora e estava querendo iniciar o tratamento.
Como todos nós nesta situação, ela estava toda "deprê", cheia de comorbidades, etc., essas coisas que nós já sabemos.
Quando ela começou o tratamento, os comentários dela mudaram, até na forma de escrever. Ficaram tão cheios de vida, tão fortes, tão alto astral que eu disse a ela para colocar o sobrenome de "Bonita", em referência à "Maria Bonita", mulher "arretada", esposa do cangaceiro Capitão Virgulino - O Lampião.
Ela aceitou, e depois nunca mais vi os comentários dela.
O último foi no post "O TDAH INCONSTANTE", que fez um comentário no dia 13/07.
Estou com saudades das conversas com ela e, até mesmo, preocupado, queria saber como ela está e sobre como está indo o tratamento.
Você tem como mandar meu e-mail para ela e retransmitir este comentário, para ver se "dar o ar da graça" dela novamente?
Vida longa e próspera.
Walter, não sei se tenho como encontrá-la, não sei seu verdadeiro nome.Vou dar uma pesquisada aqui e te falo.
ExcluirEngraçado que eu também achei que essa 'nova' Maria fosse aquela.
Enfim, sejam bem vindas todas as Marias, as bonitas e as nem tanto.
Abração meu amigo!
Alexandre
Viver 23 anos com TDAH sem diagnostico é viver no escuro, são anos se sentindo diferente dos outros, vivendo mergulhado em pensamentos confusos que se misturam e que ninguem parece entender, é deixar tudo para amanhã, não por preguiça, maa com aquele sentimento de quem faz algo errado, aquela dor no coração de que sua vida esta passando e vc simplismente não consegue dar "start".Quem convive comigo se queixa da minha desorganização espacial, mal sabem eles do caos que é a minha cabeça.
ResponderExcluirÑ tenho dificuldade em fazer amizades, mas como alguém que viaja enquanto contam aquele caso super importante, e que adia (para amanhã, semana que vem, para o aniversario do proximo ano ) aquela mensagem de parabens, consegue manter relacionamentos?
Vida academica? Vão me jogar pedra, mas me pego invejando aquelas crianças hiperativas que descabelam pais e professores.A dor da criança TDAH que "ñ dá trabalho" é silenciosa... Sempre passei de ano sem abrir 1 livro e estudar para as provas... até a vida adulta! Faculdade, trabalhp de dia, estudo a noite, trnsito lotado, pressão, ansiedade ( o TDAH é tão legal que ainda vem com amiguinhos...), o coração dispara, o olho lacrimeja, o impulso de levantar e sair correndo da sala de aula. Tentei de tudo, pedi demissão, nada adiantou. Ñ queria mais ir af aculdade, ñ aguentava, é mto sofrimento, é humilhante o sentimento de incapacidade.
Precisei chegar ao ponto de ñ querer sair de casa para procurar tratamento. Entre 1 ano de idas e vindas ao psiquiatra e o santo do meu medico muito quebrar a cabeça eu conheci o TDAH, a Ritalina. Dizem que verde é a cor da esperança, aminha veio em forma de receita amarela. Perai, ñ tem Ritalina! So podia ser brincadeira, ne? Fui de LA. O mes mais feliz dos meus ultims anos, impressionante o poder de um comprimido na vida de alguem como eu. No mes seguinte a LA tbm sumiu. Desespero define ! Tirar a Rita de mim devia ser crime com pena de morte! A dose equivalente de Concerta ñ fez efeito, estou agora com dose 3x maior, já sinto alguma melhora.
Aqui no blog eu aprendi " ... a gente levanta, a gente sobe, a gente volta...". Sem tratamento eu ñ fico mais! Quem prova a felicidade nunca mais quer viver sem.
Boa noite!
ExcluirVim aqui para excluir seu comentário conforme me pediu, mas não posso. Seu comentário é muito bom, muito bonito e comovente.
Por favor, não gostaria de excluí-lo, é muito útil e pedagógico.
Perdoe-me não ter respondido antes, mas não havia visto esse comentário.
abraços
Alexandre
Com certeza não devia excluir este comentário, é como se tivesse desabafando por cada um de nós e é tudo isso que o Alexandre falou..mas pra mim...esse desinteresse chega ao extremo de não conseguir me tratar..minha mente é tão confusa que fico criando situações de q se me esforçar vou conseguir viver sem medicação...ou de que não quero viver dependendo de medicação..é como se ainda não aceitasse que não tem jeito,aff q desespero!!!!
ExcluirRenata... Tenho exatamente a mesma sensação!! Parece que eu não aceitei ainda que tenho uma doença mental e que isso não é desculpa pra minha preguiça, desinteresse crônico, e "desligamento" constante...
ExcluirNaaaaaooooooo exclui!!!!!!!!!!!! Esse depoimento tem uma sinceridade, uma veracidade, que dá pra sentir a emoção de quem escreveu cada palavra... Além disso resume de uma forma bela e simples o que muitos de nós (inclusive eu) passamos...
ResponderExcluirIncrível como o autor relata a sensação de ver a passando diante dos olhos e não conseguir dar o "start" que nos coloca como agentes de nossas vidas e não mais meros espectadores... Foi exatamente essa sensação de vazio, de inércia, que me levou a querer mudar e a buscar ajuda médica...
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