sexta-feira, 1 de agosto de 2014

TDAH: OS GRILHÕES MENTAIS DA PREGUIÇA





Só quem tem TDAH sabe o que é ser acorrentado pela preguiça.
Uma enorme tortura mental que paralisa, acorrenta, e impede a ação.
A mente de um TDAH é pantanosa, um enorme lodaçal de emoções e medo. Sim, medo. A preguiça no TDAH não é aquela clássica de não querer fazer nada. Não, em absoluto. A nossa preguiça advém de uma série infindável de pensamentos tortuosos e projeções negativas do que vem pela frente.
Se o que se avizinha é uma festa, logo imaginamos o ambiente tumultuado, barulhento, cheio de gente das quais não gostamos, assuntos chatos e inconvenientes. Se é trabalho, sempre imaginamos que não obteremos o efeito desejado, ou ainda que se o fizermos o chefe não vai reconhecer, ou simplesmente não saberemos executar com a perfeição devida.
Ou seja, criamos um medo do futuro.
Imobilismo é segurança.
Mover-se é o desconhecido, é a exposição, é o risco.
As vezes, a preguiça nos impede de fazer gestos mínimos, de dar passos minúsculos. Quem está de fora riria se soubesse o que deixamos de fazer por preguiça. Não é a preguiça física. Não, nossa mente boicota aquela ação, torna-a desnecessária, maçante.
Nesse exato momento, sobre a minha mesa, jaz um celular que molhou e não tem mais conserto. Preciso devolve-lo ao dono ( a quem já comuniquei ser insolúvel ) e já o montei. Na pressa, deixei de encaixar um alto falante na carcaça e acabei de me deparar com ele. A primeira reação? Dane-se, o celular não tem conserto mesmo...
Mas aí entra o combate à preguiça: Deixa nada, isso faz parte do celular e deve ir com ele. Devo perder de cinco a dez minutos para coloca-lo no lugar. Tenho que fazer. E farei.
Nossa mente forja motivos para não fazê-lo. Mas a consciência da doença deve arrebentar esses grilhões.
A procrastinação sofre do mesmo processo.
Os adiamentos se dão em função de projeções mentais de que aquilo que deveríamos fazer é chato, inconveniente ou vai trazer prejuízo, dor, perda... Mas nada é, necessariamente, real. Na maioria das vezes é pura criação de nossas mentes.
Nossa vocação para a auto mutilação, auto punição, é uma grande aliada da procrastinação. Quantas vezes sabemos das prováveis consequências nefastas da postergação, mas empurramos com a barriga e corremos o risco. E pagamos o preço por isso.
Preguiça, procrastinação, medo, paralisia...
E ainda dizem que TDAH é invenção...

14 comentários:

  1. Talvez considerar o que se projetou na mente (com aquela certeza) antes de encarar o evento, com o que realmente aconteceu de fato, quando se decidiu fazer o que não iria ser feito, nos dê algo para que possamos colocar o pé na realidade, sem esperar, claro, que de uma hora para a outra tornemo-nos pessoas normais, mas esperando minimizar nossas ilusões da realidade, das reações das pessoas, etc. das consequências de nossas atitudes dentro desse caos que é a vida.

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  2. Pode ser a sobrecarga que o TDA-H cria dentro de si mesmo quando vai realizar uma tarefa. A pessoa, por não conseguir ficar com a mente quieta em apenas uma tarefa, em um assunto, já fica com uma sobrecarga para cada parte do serviço, talvez porque fica querendo abarcar todo o processo de uma vez na cabeça. Procure ver se não é uma das coisas que te atrapalham e criam a ansiedade. O importante é se observar, mas não precisa ser sempre, pois sempre é pedir demais para um TDA-H. E perceba que nesse caso é a parte psicológica do problema, e o psicológico é quem está criando a ansiedade, e não um problema bioquímico, talvez ir mudando aos poucos a forma de pensar, tendo consciência de que não precisa pensar em tanta coisa ao mesmo tempo, não sei...

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  3. Gente será que até hoje ninguém está a procura da cura do Tdah? Preciso tá vivo para sentir a sensação de não ser tdah. 😕

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    1. Autoconhecimento, aprender a ter paciência, saber que isso leva tempo, questão de 1 a 2 anos de prática por algumas poucas vezes ao dia, saber que as coisas que planejamos em nossas cabeças são possíveis mas não no tempo que queremos, parar de ficar buscando sensações e prazeres o tempo todo e em tudo, aprender a voltar para o seu ponto, ou seja, sua cabeça fica saindo do agora para ir para outros lugares com as imaginações crônicas, etc. Lembrando que leva tempo e prática, portanto não fique ansioso em querer conseguir isso logo. Tem que curtir uma vitória de cada vez, geralmente se percebe uma melhora por semana. Então, vamos supor que você precisa de 200 pontos de melhora, são cerca de 200 semanas, a não ser que você consiga algumas melhoras concomitantes, se cair para 150, são 150 semanas, ou seja, quase 3 anos, mas estou jogando lá em cima. O negócio é que depois de umas 5 coisas que você já melhorou isso já te deu um ânimo grande e você já é outra pessoa.

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    2. Léo, eu também tenho muita vontade de sentir essa sensação. Um dia na vida pelo menos...
      Abraços

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  4. É bem assim, a preguiça é criada pelo medo de errar de novo, por traumas inconscientes de erros passados, medo de agir na frente dos outros e ouvir aqueles comentários "você não tá vendo isso? como você é aérea! O que eu acabei de falar?Você repetiu o mesmo erro de novo! você não quer melhorar!", etc.
    A nossa preguiça, por mais crônica e errada que seja, é mais como um trauma. Diferente daquela preguiça em que a pessoa adia tudo por prazer em ficar sem fazer nada. Tem pessoas que gostam de ter preguiça, têm orgulho de serem vistos como preguiçosos, inventam desculpas pra tudo, só fazem o que querem. Mas quando se arrependem, conseguem mudar de comportamento sozinhos.
    Já pra quem tem tdah, o controle e a mudança já é mais difícil.
    Fe

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    1. Eu acho que o que ocorre é o seguinte: nenhum TDA-H é preguiçoso, e se fosse, ocorreria o que falaram acima, ou seja, conseguiria deixar de ser, já que no fundo é uma pessoa normal. Pessoa essa que em algum momento da vida começou a imaginar coisas e gostou, por ser uma pessoa criativa a sua cabeça realmente criava coisas mais interessantes dentro dela, de forma que a própria realidade não a instigava muito. Portanto, pela busca desse prazer, dessas sensações, a pessoa entrou em um vício, mas ninguém a avisou das consequências que ela teria, que seria a dificuldade de se "olhar para fora" e ver as cosias sem tantos pensamentos, sem aquela "cortina translúcida" de pensamentos que se intercala com a realidade que entra pelos olhos e torna tudo semi real, semi virtual, além de nos deixar como um barrichelo, para trás, não consegue seguir o que todo mundo entende, pois estamos o tempo todo com uma cabeça fugidia, muito mais fugidia do que preguiçosa, criando um simulacro de que somos assim e de que isso não tem cura. Claro, as comorbidades podem existir e serem coisas a parte, com causas diferentes, mas que não deixam de influenciar a vida da pessoa, aumentando a confusão da p... toda.

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    2. Oi, eu vivo em outro mundo sim, desde criança. Mas gostar ,eu pelo menos, nunca gostei. Me faz ser vista como egoísta, faz as pessoas se afastarem de mim, por eu não dar a devida atenção a elas. Olhar pra fora, muitas vezes é assustador, mas no fundo preferiria viver com os pés no chão. Vivo em outro mundo, mas não por opção.
      Fe

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    3. Quando eu era pequena, eu até gostava de viver no mundo da imaginação, inventava estorinhas e me apagava de tudo a minha volta. Igual o Lucas Silva e Silva daquele seriado infantil " Mundo da Lua". Mas o maior motivo do meu desligamento, não é por devaneios, é por falta de percepção. Mesmo quando minha cabeça está em total silêncio, muita coisa a minha volta me passa desapercebido. Não raro as pessoas precisam gritar pra eu conseguir dar ouvido a elas.
      Fe

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  5. Alexandre, quais medicamentos vc toma?

    Por gentileza, ando em crises...

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    1. Amigo, no princípio tomei Ritalina e Sertralina; a segunda para amenizar minha ira. Depois de alguns meses, aprendi a me controlar melhor e suspendi a Sertralina. Depois de cerca de quatro anos tomando Ritalina, estou desde março sem nenhum medicamento pra TDAH. Tenho tomado apenas um polivitamínico para pessoas acima de 50 anos, o Centrum Select. Estou fazendo uma experiência com meu auto controle e está dando relativamente certo. Ainda cometo falhas mas mesmo medicado ainda cometia. Agora devo voltar com a Ritalina para testar se terei algum ganho no dia a dia. Assim que tiver uma comparação posto aqui.
      O importante é sua conscientização da doença e vontade de mudar. Hoje em dia, tudo o que eu faço, tudo o que envolve atitude, eu submeto ao crivo da minha consciência: isso é meu ou do TDAH? Muitas vezes opto por seguir a vontade da doença, mas sigo consciente, não tenho o direito de reclamar depois. Mas em geral se vejo que é uma atitude 'contaminada' pela doença, mudo e faço o correto.
      Existem além da Ritalina comum, a Ritalina LA (uma ritalina de longa duração, mas deixou muitoooo nervoso), o Concerta (é uma Ritalina LA com dosagens diferentes, nunca usei) e o Venvanse ( é considerado o mais recente do mercado, mas não me adaptei muito bem. Tomava 30mg por dia e fiquei meio alheio à vida. Passei um dos piores momentos da minha vida sob efeito desse remédio e me senti como num filme, nem parecia que era comigo. Hoje minha médica fala que eu devo testar 10mg por dia, mas ainda estou avaliando; é muito caro.).
      Abraços
      Alexandre

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  6. Galera , em tudo em nossa vida , devemos nós concentrar na solução do problema, isso ocorre comigo todo santo dia , tenho 18 anos , descobri meu Tdah á exatamente 6 meses ...

    Lembro de ter sofrido muito quando terminei com minha ex , sabe por que ?? Eu era muito inseguro , o que leva automaticamente a você ser ciumento , possessivo ... Era chato mesmo kkk

    Nada é por acaso nessa vida , mudei muito nesses meses de tratamento , faço terapia comportamental , ritalina e lexapro todo dia kk , meus amigos de estrada !! Tenho sim .. Pensamentos desorganizados , ansiedade , tudo !!

    Hoje luto pelos meus sonhos , todos somos capazes , nada é fácil ! Admito que tem dias que não estou bem , isso é fato ! Meu objetivo de vida será ajudar a todos que sofrem com o Tdah , não sou leigo no assunto mas sei que posso !

    Abraços guerreiros !!

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  7. Nossa!
    Você disse tudo. Sinto-me assim, e é uma luta constante comigo mesma, angústias, medos que me bloqueiam, noites projetando e manhãs sem realizações. É difícil, ninguém acredita no que digo, só acham que eu não sou determinada, e não quero de verdade. Isso me deixa depressiva.

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