quinta-feira, 23 de abril de 2015

QUANDO DÓI O TDAH...



Minas Gerais teve um governador-  Hélio Garcia - cuja procrastinação era vista como esperteza política. Suas decisões eram adiadas até o último dia; o último minuto, do último dia do prazo.
Até o dia em que ele se deu mal.
Inesperadamente, aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo político; quando não havia mais tempo para mudanças,  o Governador Hélio Garcia surgiu diante das câmeras e anunciou seu candidato à própria sucessão. Além de estar visivelmente embriagado, o então Governador surpreendeu o mundo político estadual com o nome do candidato que anunciou: um obscuro e medíocre deputado estadual que ele pretendia transformar em governador.
O mundo político mineiro veio abaixo, o tal candidato naufragou e acabou desaguando na candidatura do famigerado Newton Cardoso, de triste lembrança para Minas Gerais.
Mas afinal, o que é a procrastinação?
Procrastinação é a arte de 'esquecer' um problema na esperança de que resolva-se sozinho.
Procrastinar consiste em evitar defrontar-se com coisas, pessoas e situações desagradáveis, como se isso fosse possível.
Procrastinar é atirar um bumerangue de olhos fechados e torcer para que não volte na própria cabeça.
Procrastinar é burrice! Procrastinar é estupidez! Procrastinar é infantilidade!
E por que procrastinamos?
Por que somos doentes.
Por que temos uma deficiência de neuro transmissores que faz com que tenhamos atitudes infantis, impulsivas e inconsequentes. Uma doença que faz com que nossos cérebros trabalhem de maneira diferente do cérebro dos 'trouxas'.
Um cérebro doente que compraz-se em destruir a vida daquele que o alimenta, que o mantém vivo; daquele que ele, cérebro, deveria premiar, gerir e manter. Enfim, uma estranha autoflagelaçao.
Posso dizer - por experiência própria - que a procrastinação é fruto de uma mistura explosiva de sentimentos: o medo de que aquilo que se deve enfrentar seja grande demais; o sentimento de inferioridade que faz com que nos sintamos incompetentes em solucionar; a infantilidade de acreditar que não enfrentar é uma forma de solução; a necessidade de se auto premiar, simplesmente dando um foda-se para tudo o que é desagradável. A tudo isso soma-se nossa incontrolável capacidade de fantasiar que nos leva a projetar situações desagradáveis e constrangedoras que jamais se concretizam. Ou que não se concretizariam se tivéssemos agido a tempo e a hora.
E daí, qual a solução?
Não tenho uma solução. Nem a Ritalina ou o Venvanse , ou o Concerta solucionam isso.
A única coisa que sei é que não podemos nos torturar; não podemos nos punir; não podemos nos acusar. Em geral, somos as nossas maiores vítimas. O resultado de nossa procrastinação recai sobre nós mesmos, portanto, poupemo-nos.
Outra coisa inútil que posso afirmar: aprendamos com nossos erros! Essa é uma das características mais marcantes da doença: a incapacidade de aprendermos com nossos os próprios erros.
Levante a cabeça, você já está doído demais pra se repreender.
Poupe-se! Perdoe-se!
E siga em frente!
Se os 'trouxas' erram, nós temos salvo conduto para errar infinitamente...

9 comentários:

  1. Que atire a primeira pedra aquele que nunca procrastinou!
    Acho que independente da doença, assim como possuímos virtudes, nós possuímos vícios, e a procrastinação é um deles. Mas devido à nossa deficiência cerebral, somos a cima da média. Muitas vezes, tornam-se insuportáveis, mas precisamos exercitar nossa lucidez para em alguns momentos reconhecê-los e tentar, nos esforçar, suar... E conseguir superá-los. Não será fácil, mas tb tenho consciência que não é impossível.
    Paula.

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    1. Todo mundo procrastina. Dar uma olhadinha no face durante o trabalho, passar um fim de semana vendo tv ao invés de estudar, enrolar antes de ir no mercado no calor...etc. Uma preguicinha, de vez em quando, é comum em todos. A procrastinação só é doentia quando faz a pessoa passar por cima do respeito ao próximo, faz uma pessoa não ter palavra e cometer irresponsabilidades graves compulsivamente e sem se importar com os prejuízos que virão depois.

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    2. ¨Todo mundo procrastina.¨

      - É fato.

      ¨Dar uma olhadinha no face durante o trabalho, passar um fim de semana vendo tv ao invés de estudar, enrolar antes de ir no mercado no calor...etc. Uma preguicinha, de vez em quando, é comum em todos. ¨

      - É fato, mas estes aí não são TDAHs.

      ¨A procrastinação só é doentia quando faz a pessoa passar por cima do respeito ao próximo, faz uma pessoa não ter palavra e cometer irresponsabilidades graves compulsivamente ...¨

      - É fato, estes somos nós, de forma crua e dura, mas somos nós, TDAHs.

      ¨ ... e sem se importar com os prejuízos que virão depois.¨

      - Não. Nós nos importamos e sofremos muito com o sofrimento dos outros (não somos psicopatas), mas simplesmente não conseguimos evitar, a doença é mais forte.

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  2. Descobri recentemente a TDAH em mim. Chorei de alivio por saber que tudo aquilo pelo qual tinha passado tinha uma razão de ser. Ou de não ser. Mas enfim, lendo muito a respeito e lendo depoimentos. E o melhor é que decidi não me medicar nunca. Decidi me tratar com muito carinho, me tratar com paciencia, me tratar com bom humor. Porque eu ja sei como sou plena, ludica, dispersa, diferente. E minha fé me levará em segurança.

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  3. Oi, me tire uma dúvida. Depois de muito tempo tomando medicamento para o TDAH e depois para de tomar, o cérebro não acostumado nem um pouco a se comportar com menos transtorno de DAH? Se poderem me ajudar, agradeço desde já. Meu email é leozinrv@hotmail.com

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    1. Leo,

      Vou me antecipar ao Alexandre.

      Não. Não e, INFELIZMENTE, NÃO. O TDAH é uma doença incurável.

      A medicação (só e somente só enquanto você a toma), o auto conhecimento e (muitos falam bem, não fiz ainda) a terapia comportamental são excelentes para nos tornar mais ¨funcionais¨ e, por tabela, elevar a nossa naturalmente combalida autoestima.

      A soma destes tratamentos nos permitem melhorar, em muito, a nossa qualidade de vida ... uns acham isto pouco, eu acho isto fundamental, mas a verdade é uma só, nua e crua, TDAH não tem cura, tem tratamento, tem convivência ...

      Grande abraço,

      OBS: ainda escuto a tua música alto astral

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  4. Procrastinação, tão nós, tão caracteristico, uma personalidade tão forte e demente, que vive em nossa mente e vida.
    A minha vida foi assim, de procrastinação, uma atrás da outra, sempre fazendo no último instante, e sempre superando as mentes mais trouxas, fazendo aquilo que poucos achavam que podiam fazer, só que fazendo sempre no último instante.
    É como um filme, novela, série, james bond, o mal sempre está ali, mas você só consegue resolver no final, só que não estamos em filme.
    Uma vez, na escola, nas ferias foram passadas 30 questões de matemática para fazer, 30 dias, duas horas para ir para a escola é que eu estava fazendo, e não é por esquecimento, não é porque não sabia, mais procrastinou-se algo que poderia ser resolvido no primeiro dia e ficado livre.
    Ahhhhhh procrastinação, acredito que se pensar direito, é o fator chave, é o que mais nos equipara e nos distancia dos "trouxas". Mas porque? eu queria saber.
    Eu estou agora, depois de procrastinar, algo que não era para ser feito, mas foi feito, agora o tempo não perdoa, a vida lhe cobra, e o mundo também, kkkk, ahhhhh procrastinação, mas será que não é apenas um erro nosso?
    Nesses tempos de escuridão, única vontade é de sumir, desaparecer, no sentido do bumerangue não voltar, mas chega em um momento em que não há volta, e você descobre que o bumerangue vai te acertar, e você vai cair.
    O auto conhecimento de si e de seu problema o fará entender antes, durante e depois, uma nova realidade com as mesmas consequencias?
    Só uma coisa acima de tudo que acho o mais interessante, e se pode ver pelo nome deste blog, reconstruir, recomeçar, acima de tudo, acredito eu que temos um desejo imenso de recomeçar, não importa quando, não importa a merda, a situação, a asneira, mesmo sabendo que o bumerangue vai bater, já queremos recomeçar, refazer, e isso acho muito interessante.
    Estou em um momento em que eu ainda, mesmo vendado, e já atirado o bumerangue, posso me abaixar para não ser acertado, por mais dificil que seja, ainda existe isso, como nos exercicios de matematica por exemplo, sabemos que ainda existe um tempo, como o governador, no ultimo segundo, ele ainda o fez, dá melhor maneira? Quem vai saber, pois não vamos saber qual outra maneira que seria realizada.
    Mas é isso, procrastinação, uma doença de um mundo doentio, em que ao persistir na fase adulta nos fazem perceber o quão falhos somos.
    Tem hora que saber demais, saber deste problema é um problema, pois até isso procrastinamos em perceber.

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  5. Um banho de verdades sobre o TDAH. Por que é tão difícil?

    http://www.buzzfeed.com/lukebailey/29-dificuldades-que-as-pessoas-que-sofrem-de-defic#.rb96gxeeXk

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  6. Alexandre,

    o Anônimo acima resumiu, em uma frase, tudo que poderia falar sobre o seu texto e sobre a procrastinação que exercitamos com tanta regularidade e com tanta tragédia:

    ¨Um banho de verdades sobre o TDAH. Por que é tão difícil?¨

    Já falei diversas vezes sobre o fato de que, de todos os sintomas do TDAH, nenhum foi e é tão potencialmente destrutivo e regular quanto a procrastinação.

    E dela, da procrastinação, que, literalmente todos os dias, durmo e acordo com verdadeiro pânico. ¨Estou procrastinando algo?¨; ¨Estou no início de uma procrastinação?¨; ¨o que fazer?¨; ¨Como superar/evitar?¨ verdadeiro suplício.

    Já desenvolvi com a idade algumas estratégias. Fora saciar a curiosidade de vocês, todas elas são pessoais e provavelmente não poderiam ser usadas por vocês. Além do mais, o meu índice de sucesso é muito pequeno, continuo sempre procrastinando.

    Mas, o que eu quero dizer aqui para vocês é que a procrastinação é, realmente, uma marca da doença TDAH. É nossa característica. Se você é TDAH, você procrastina. Se não, tente rever seu diagnóstico.

    Seria muito bom que vocês lessem o texto no site: http://www.dda-deficitdeatencao.com.br/tdah/funcoes-executivas.html.

    Ele afirma, e eu concordo que: o TDAH se caracteriza por ser um indivíduo com extrema dificuldades executivas.

    Estes somos nós: indivíduos com uma doença que nos ataca nas nossas capacidades executivas. Simples assim, aterradoramente simples.

    Impulso, esquecimento, desatenção, procrastinação, .... tudo nos leva à uma incapacidade de gerenciar nossas atividades diárias.

    Enfim, mais um excelente texto, Alexandre, parabéns.

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