quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

TDAH E O PASSADO PERDIDO








Questionado pela amiga TDAH, Letícia, sobre como lido com meu passado, e se acho meu passado perdido; acabei por voltar a esse tema que já abordei aqui no blog mais de uma vez.  
Minha resposta a ela foi: Não lido. Nem penso nisso.  
Claro, já se vão seis anos de diagnóstico e muito água correu sob a ponte. Até pela idade - tenho 56 anos -  fui ficando mais tranquilo e menos angustiado.  
Após o diagnóstico passei por algumas fases: 
Alívio: Eu estava numa fase muito difícil da minha vida e vinha me questionando de forma dura e implacável. Saber que grande parte do meu comportamento era fruto de uma doença me deu enorme alívio.  
Revisão do passado: Acho que quase todo mundo passa por isso. É quase um julgamento das atitudes passadas. Muita gente se condena sem piedade. Eu, ao contrário, coloquei quase tudo na conta do TDAH. E isso levou-me ao estágio seguinte.  
Auto perdão: Perdoei-me da imensa maioria dos erros cometidos. E isso foi muito, muito bom para minha vida. Portador de um transtorno que afeta fortemente meu comportamento, não posso me crucificar pelos erros do passado.  
Esquecimento: Deixei de pensar nisso. Hoje em dia pouco me importa quem errou, eu ou o TDAH. Errar faz parte da vida. Não cometi nenhum erro propositadamente. E isso me basta.  
Mas esse tempo pré-diagnóstico foi perdido? Absolutamente, foi um aprendizado riquíssimo, uma vida intensa. Fiz exatamente o que queria, o que acreditava e o que achava correto. Após o diagnóstico minha vida mudou para melhor?  Fiquei imune aos erros?  Sou mais feliz?  
Minha vida melhorou muito. Principalmente em termos de objetivos de longo prazo, de sonhos e de realização pessoal. Esse blog, o livro que lancei, os livros que já escrevi e ainda não foram editados... Uma vida muito maior em horizontes e realizações.  
Ninguém está imune a erros. Com ou sem TDAH.  
Não sei se o mais correto é dizer que sou mais feliz, tenho mais consciência dos meus sentimentos e acabo desfrutando melhor dos bons momentos da vida.  
Aprendi a fazer escolhas mais conscientes e racionais. Mas claro, mais consciência pressupõe mais responsabilidade. Não posso mais empurrar a culpa no TDAH ou em qualquer outro fator. Agora a culpa é minha.  
A vida é feita de escolhas e eu escolhi ser feliz. E acredito que todos podem escolher a felicidade.  
Mudar o padrão mental é o primeiro passo. Parar de ruminar as falhas e abraçar as qualidades.  
Eliminar as arestas da vida. Sabe aquela série de pequenos incômodos que carregamos pela vida?  Aquele primo chato que recebemos em casa por ser parente; aquele amigo que volta e meia  dá alfinetadas sobre nosso comportamento; são inúmeras situações e pessoas que podem eliminadas sem prejuízo para a vida.  
Lógico, aos dezoito, vinte anos somos mais impulsivos, mais corajosos, mais dramáticos e tudo nos parece irremediavelmente perdido. Mas, se mesmo jovens já temos o conhecimento do transtorno, podemos com muito mais sucesso construir um futuro mais positivo e vitorioso.  
Não vale voltar-se para o passado. Ele foi importante, mas passou. Sua missão já foi cumprida. Foque no presente, ele é que construirá o futuro. Focar no presente é tratar-se com seriedade e persistência. Compreender que a vida é feita de ações e não de reclamações.  
Letícia, seu passado é exatamente isso; passado. Não importa se bom ou ruim, ele te trouxe até aqui. E merece respeito.  
Vire-se para o futuro, ele depende só de você. Só de você!  

8 comentários:

  1. Só depende de mim, e agora sabendo distinguir quem sou eu e o que é o transtorno, sem dúvida que meu passado mal aproveitado em muitos aspectos não se repetirá.

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  2. Me descobri tdah a quatro meses, aos 54 anos. Seus posts e os comentários me ajudam muito, leio e releio...aprendendo a distinguir o que é meu e o que é do tdah. Obrigada!

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  3. mais um belo texto que resume muito bem os dilemas que enfrentamos. Meu passado é um fardo pesado, pesadíssimo, determina e muito a maneira como hoje me relaciono com as outras pessoas. Mas nao vejo isso de forma tão negativa, só nao escolho mais nadar em aguas tão profundas e conheço mais os meus limites.
    grande abraço alexandre

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  4. Gente tenho um namorado com TDAH que eu amo muito, só q tipo do nada ele tá encomendado com meu passado, fica pensando nos meus ex e diz q só consegue pensar nisso que me ama mas q não para de pensar no meu passado, oq eu faço?

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    1. realmente, isso já não tem nada a ver. Se imponha e bote um ponto final nisso.

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  5. Isso ja e imaturidade da parte dele, sua vida antes de vc o conhecer nao diz respeito a ela, seja energica, e coloque um ponto final nesse tipo de pergunta, senao ele vai te perguntar mais coisas na hora da transa e se vc entrar no jogo dele logo logo vc vai esta apanhando.

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  6. Belo texto meu amigo, você é um ótimo escritor. Parabéns, continue melhorando o mundo!

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