Acordei às sete e meia e determinei que eu deveria sair de casa às oito horas. Talvez eu fosse a Ibitipoca ( uma cidade próxima onde existe uma reserva florestal com cachoeiras, lagos e etc.) e sair mais cedo seria mais interessante. Mas, note bem, talvez eu fosse. Não havia nada determinado, nenhuma hora combinada. Eu me estipulei sair às oito horas de casa.
Levantei e fui fazer meu café da manhã. Ao contrário do que normalmente faço, sequer liguei o notebook para não me distrair e perder a hora. Tomei o café e fui arrumar meu quarto. Não saio de casa sem arrumar minha cama e tirar a louça da mesa. O tempo passava mais rapidamente do que eu conseguia cumprir minhas tarefas. Uma irritação começou a nascer dentro de mim. Passei a olhar o relógio a cada segundo e me irritava constatar que dificilmente eu conseguiria cumprir o prazo que eu mesmo havia determinado.
Faltavam cinco minutos para as oito horas, e minha irritação já era bem grande, quando lembrei-me de que havia colocado roupas na lavadora na noite anterior. Não podia deixá-las lá. Fiquei com uma raiva danada por ter colocado a roupa na máquina. Xinguei-me mentalmente e saí pisando duro em direção à área quando uma luz se acendeu em minha cabeça: peraí, hoje é domingo, eu não tenho nada marcado, é um passeio que talvez eu faça. É um passeio, eu pensei. Eu não preciso sair às oito horas. Naquele instante, o nível de estresse que eu alimentara a trinta minutos, baixou de forma abrupta. Foi quase a zero.
Tentei então, rever meus últimos momentos de fúria. Teria eu mesmo criado e alimentado esse sentimento com limites inexequíveis?
Uma das características do TDAH é que temos uma relação diferente com o tempo. Sempre achamos que ainda podemos fazer algo sem nos atrasar. Claro, nunca dá. Razão de tantos atrasos por parte dos portadores. Me dei trinta minutos para fazer café, tomar o café, tirar a louça da mesa, arrumar meu quarto, escovar os dentes, colocar as lentes de contato, trocar de roupa, colocar o que eu levaria no carro, e estender as roupas que estavam na lavadora.
Vamos à matemática: some uma dificuldade de avaliar o tempo à pressão do relógio correndo contra a minha expectativa. Resultado da operação? Uma explosão de fúria. Uma irritação que não consigo controlar. Brigas, muitas brigas, muito desgaste, dias de culpa, relacionamentos estremecidos ( ou destruídos).
Minha amiga de TDAH, a Rita do blog : Tenho TDAH, e agora?, comentou no meu post: TDAH, a fúria que destrói, que nós devemos ser mais flexíveis com o tempo, nos preparar com maior antecedência. Claro que concordei com ela mas, pela primeira vez, consegui observar que eu sou responsável por boa parte dessa irritação. Eu me coloco margens estreitas demais.
Saber-me TDAH trouxe esse tipo de benefício: consigo detectar onde e como cometo os erros e auto sabotagens. Comportamentos que antes eu julgava normais, racionais ou imutáveis, agora fazem parte de um rol de atitudes suspeitas e perfeitamente mutáveis. Claro que mudá-los não é lá muito fácil, mas conhecê-los já é o primeiro passo para desarmá-los.
Como nada nesse mundo é completamente ruim, essa irritação que eu mesmo criei teve o seu lado bom; gerou este post após dois dias de absoluta aridez de idéias.
Mais um passo à frente.
Ao infinito e além!
Obs.: Não fui a Ibitipoca. Irritei-me inutilmente.
ki bom
ResponderExcluirOlá Alexandre, sigo seu blog há um tempinho, sou namorada de um TDAH e tenho um blog sobre o assunto tb (http://relacionamentotdah.blogspot.com.br/) gostaria de te pedir se vc poderia me indicar suas postagens sobre o relacionamento pessoal da vida de um TDAH (claro, se vc tiver)?...
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