sexta-feira, 19 de outubro de 2018

TDAH, INIMIGO ÍNTIMO





É como um abcesso, começa como um pequeno grão e com o tempo enche-se de pus até romper numa explosão de consequências imprevisíveis. 
De repente, um sorriso do cônjuge -que antes era lindo - transforma-se num esgar irônico e ofensivo. A sabedoria do chefe soa num belo dia como arrogância humilhante. A voz desagradável de um único professor começa a contagiar todo o curso. 
Sem que o portador perceba, a mente TDAH começa a fomentar pensamentos, conclusões e intrincadas correlações entre raciocínios criando imagens, muitas vezes fraudulentas, daquela pessoa escolhida como alvo. 
Como se fosse inspirado pelo além, uma sucessão de pensamentos desairosos povoa a mente TDAH criando um monstro que deve a todo custo ser combatido. E esse combate torna-se irresistível! 
Inicia-se então a segunda etapa desse processo: a criação de justificativas para a decisão radical que se aproxima. O ser amado é alçado à condição de mau caráter por esse quebra cabeça mental.A partir daí, não tem volta. Outro caminho pode ser o auto convencimento: premido pelos próprios erros (ou pelo medo de cometê-los) o antes funcionário ambicioso e com gana de alçar cargos elevados na empresa, convence-se de que é um ser humano desapegado e incapaz de se violentar para ascender materialmente. Ainda que nada disso esteja sendo exigido dele. Novamente uma caminho sem volta. 
A terceira, e última, etapa é previsível: o rompimento definitivo. Em geral dolorosíssimo, porque foi precedido por agressões verbais e acusações duríssimas. O elo que parecia sólido é repentinamente rompido e o TDAH segue seu caminho aparentemente incólume. A outra parte fica perplexa, ferida e surpresa pois tudo isso aconteceu apenas na mente do TDAH. 
A sucessão de rompimentos dá ao portador um amargo sentimento de fracasso e uma genérica sensação de ser ele o único responsável. Mas a mente envenenada pelo TDAH não consegue reconhecer que a fraude estava no pensamento criado por ele, e não na realidade. E segue a vida fazendo novas vítimas na tentativa de acertar. 
Não quero dizer aqui que não existam maridos e esposas vis, chefes tirânicos ou empresas massacrantes; não. Narro um comportamento comum e nefasto do TDAH. A auto sabotagem no mais alto grau de sofisticação e crueldade. 
Como escapar? 
Auto conhecimento, auto policiamento e uma vontade férrea de mudança. É fundamental querer mudar de vida. É imprescindível querer amar a pessoa que está ao seu lado. É muito, muito importante ter a consciência de que não se pode mais jogar fora aquela oportunidade profissional. 
Ao se policiar, ao se tratar adequadamente, ao estar alerta em relação ao TDAH, o portador começa a reconhecer as conexões estapafúrdias de comportamento; começa a reconhecer que o desânimo em relação ao emprego é artificial e que uma atitude radical requer situações mais concretas e palpáveis que uma sucessão de pensamentos negativos e sem embasamento. 
Se mesmo sob essas análises a realidade ainda for dura e insuportável, rompa-a; e não precisará conviver com a culpa de estar repetindo os desatinos de outrora.

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