sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
TDAH, A FÚRIA QUE DESTRÓI.
Alguns dias são especialmente desafiantes para um TDAH.
Ontem foi um desses dias. E eu sucumbi.
Na quarta à noite, meu carro começou a apresentar um problema de motor. Fiquei assustado, na sexta pela manhã eu precisaria dele para buscar minha filha no aeroporto do Galeão no Rio.
Decidi leva-lo ao mecânico na quinta-feira pela manhã bem cedo. O problema é que eu havia marcado com um caminhão para recolher um entulho em meu jardim às 10 horas da mesma quinta e contratado uma faxineira para o mesmo dia à 9:30. E eu deveria buscá-la pois de ônibus seria impraticável para ela.
Meu nível de stress subiu de maneira assustadora. Não entendo muito de mecânica mas achei que poderia ser algo de solução rápida. Ou pelo menos tinha essa esperança.
Consegui adiar com o caminhão em 30 minutos e decidi ir para a oficina às 8 horas.
Então o pavio foi aceso.
Estava em processo de reconciliação com minha última esposa e ela me ligou e me pediu que descesse mais tarde para que ela pudesse ir comigo. Foi um enorme erro. Titubeei, disse negativas vagas, mas ela insistiu, pediu novamente carona. Aceitei contrariado, irritado. Muito irritado.
À medida que o tempo passava eu me irritava mais. Às 8:40 ela me ligou marcando comigo em um local um pouco mais próximo de minha casa. Saí de casa em alta velocidade e muito, muito irritado por estar tão atrasado. Cheguei ao local combinado e ela não estava na porta à minha espera. Minha irritação atingiu o ápice. Cheguei buzinando violentamente e uma senhora conhecida que estava à frente da casa ironizou minha pressa e irritação. Aquilo foi uma afronta. Minha esposa chegou um minuto depois. Dois minutos, no máximo. Descarreguei sobre ela minha ira, arranquei com o carro antes que ela fechasse completamente a porta. Discutimos durante os cerca de quinze minutos que duraram o trajeto. Ela tentou abrir-me os olhos para a aberração daquela raiva. Mas nada era capaz de me convencer de que eu estava errado.
Não a vi mais desde então.
Ontem, quinta-feira, foi um dia atribulado. Por sorte, o defeito no carro foi de solução rápida e eu pude encontrar com o dono do caminhão que retirou o entulho do jardim. A faxineira não deu para buscar. Volta e meia a discussão com a Jaque voltava à minha mente. Eu sempre chegava a conclusão de que lhe devia desculpas. Mas não tinha certeza. Quase às 19 horas enviei-lhe uma mensagem de desculpas. Ela não respondeu. Às 21 horas liguei para ela e não fui atendido. Por volta das 23 horas enviei uma mensagem de rompimento. Ela não teve nenhuma reação. Parece que acabou.
A ira do TDAH explodiu com minha relação.
Mais uma vez.
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Alexandre, que bom que me avisou que mudou de blog, amigo. Agora vou te seguir por aqui!
ResponderExcluirQuando li esse seu post, me lembrei de várias situações em que aconteceu algo muito parecido com isso na minha vida.
Acho que, como você, sou uma pessoa com enormes dificuldades em dizer não. Parece que o mundo vai acabar se a gente disser que não consegue fazer algo por alguém, e a tristeza que sentimos ao perceber que desapontamos pessoas próximas e queridas?
Mas, amigo, se tem algo que nós TDAHs não podemos fazer é acumular funções. Negue, adie, improvise de outra maneira, mas não aceite fazer além de suas possibilidades. E quais são as suas possibilidades? Isso vai depender do dia, da situação, do humor... É louco, mas funciona assim.
Muita atividade, compromissos, mesmo que sejam divertidos e alegres, pode criar fadiga mental rapidamente em nós. E isso é choque certo.
Espero que agora tudo já esteja resolvido com sua esposa.
Converse muito com ela sobre o transtorno, explique que nossas reações são 10% baseadas pelo transtorno e 90% pelo condicionamento de se ver livre do sofrimento que reina em nossa mente durante uma manhã como essa que você descreveu que viveu.
Dá pra mudar sim, mas a gente tem que ser rigoroso na hora de montar nosso dia e ser flexível com os imprevistos.
Um abraço grande!
ola,muitas vezes fiz isso,marcar varios compromissos num mesmo dia,claro horarios um atras do outro e claro,como tudo na vida,tem imprevistos...mas parece que não os previa,~e isso me irritava e muito,e tudo era englobado...juntamente com as relações...
ResponderExcluirEu não sabia que o TDAH era assim... todos sempre me chamaram de bipolar por isso. Caramba, descobrindo uma coisa nova a cada dia. Fico (em parte) feliz por não ser a única a ser assim.
ResponderExcluirJ.
Bom dia J, essas explosões de fúria são muito comuns e, no meu caso, diminuíram sensivelmente com a ritalina, mas principalmente com minha mudança de vida. Tenho tentado mudar ou eliminar o que me incomoda na vida. Mudei desde meu local de trabalho (sou técnico em manutenção de celulares e minha sala era aberta ao público com um assédio grande) até a venda da minha empresa de comércio de celulares e fiquei apenas com a manutenção. Cortei relações pessoais que me incomodavam e coisas do gênero. A pressão sobre mim reduziu significativamente, e minha fúria também.
ExcluirPense nisso. Será que sua vida não tem arestas demais onde vc se machuca o dia inteiro? Se tiver, mude, até aquilo que nos parece importante ou querido pode ser uma fonte de dor e raiva.
Abraços
Alexandre
Oi Alexandre, eu tenho TDAH e entendo perfeitamente esse seu dia. Varias dessas já aconteceram comigo. A paciência vai pelo ralo embora o enorme esforço que se possamos fazer. Eu sei que tenho de enfrentar essas dificuldades com um pouco do que aprendo todos os dias, mas há dias que não dá. Eu gostaria muito de tocar com você sobre uma coisa. Existem dias em que estou completamente em "branco". A mente parece estar de ressaca. Nesses dias não tenho vontade sequer de dar um bom dia. É como se estivesse em manutenção, as vezes dura algumas horas, as vezes um dia inteiro. Isso acontece com vocês? A inquietação volta com toda a força no dia seguinte. Quando criança, por vezes, eu chorava de cansaço na mente, por não conseguir frear os pensamentos. Era um cansaço infinito. Hoje me encontro bem melhor.
ResponderExcluirTb não consigo dar um não. Também faço mil coisas ao mesmo tempo, é como se ficasse aquele martelinho pedindo pra gente fazer outra coisa e assim vem a distração. Horários? São difíceis...muito difíceis...Abs
Maria, perdoe-me a demora em respondê-la.
ExcluirSim, tenho esses dias em branco como você diz. Dias em que passo pela vida como um autômato, sem ver ou sentir nada que valha a pena.
Com a Ritalina esses dias melhoraram, meus sentimentos ficaram mais estáveis.
Você faz algum tipo de tratamento?
Se quiser conversar estou à sua disposição,
Abraços
Alexandre
Oi Alexandre, grata por sua resposta!
ResponderExcluirSim, eu por um breve tempo fiz a Ritalina, mas ela me deixou distante e quase que não me reconhecia. Parei o tratamento e comecei por uma auto-educação (será que estou me iludindo?) com relação ao TDAH. Foi um enorme esforço e ainda é. Porém, em alguns momentos tudo vem com uma força inesgotável (não consegui encontrar outra palavra). Durmo muito pouco e o que mais me incomoda são os dias de distancia. Muito bom ter encontrado esse BLOG, me identifiquei quase que em 99% com suas descrições. Um grande abraço!