Mas escrever o que?
Talvez a escrita automática de Breton, um estado êxtase, um jorro mental, sem filtros ou sem qualquer forma de lapidação.
Talvez algo sem fim, que só termine com o sono. Não que terminem os pensamentos, mas a possibilidade de escrevê-los.
Sentimentos confusos, inconcludências.
Apenas uma vontade de escrever.
Dor? Longe disso. Tristeza? Não. Raiva? Muito menos.
Apenas escrever. Escrever, escrever, escrever.
De repente me bate uma enorme saudade de Florença, a cidade mais bela do mundo, berço da renascença italiana, porta de saída da escuridão da Idade Média. Saudades de andar em suas ruas estreitas e sinuosas, sentir o cheiro de história que exalam suas paredes. A cada esquina a possibilidade de entrever o vulto de um dos membros da família Médici, os grandes responsáveis pela grandeza e glória de Florença. Quedar-me diante da beleza perfeita das portas de seu batistério. Ah, Florença! Quantas saudades deixastes em mim; ainda que eu nunca tenha te conhecido.
Saudades dos livros que não li; das comidas que não experimentei; dos sonhos que não tive, ou ainda, dos que tive mas não concretizei.
Saudades dos amores não vividos, das dores não sentidas. Saudades...
Saudades por que?
Jamais fui a Florença, mas conheci Veneza. Caminhei pela piaza di San Marco, dei milho aos pombos. Conheci os belíssimos canais que a tornam única e inigualável. Saudades de Florença? Não a conheci, mas pude ver o mar azul do alto da ilha de Santorini; atravessei a baía de todos os santos no ferryboat que liga Itaparica a Salvador.
Saudades dos livros que não li? Jamais, quem leu Cem anos de solidão; o Germinal; Ensaio sobre a cegueira e tantas outras obras espetaculares não conhece saudades. Você já leu O Aleph? Pois leia. Ali tem um conto que pode mudar sua visão da morte, ou da imortalidade.
Saudades? Que nada! Um saxofone ao fundo é um privilégio, conhecer Veneza, Santorini, Ilhéus e tantas outras cidades que conheci é um privilégio; eu já li Cem anos de solidão, isso é um privilégio de verdade. Sou um privilegiado, tomei café espresso em Veneza, almocei na ilha de Rhodes, vi o sol nascer em Ilhéus e por-se na popa de um transatlântico. Amei as melhores mulheres do mundo, as piores também, mas isso é história de vida. Já tomei sorvete da La Basque e da Häagen-Dazs; já assisti a shows do Gonzaguinha, Milton Nascimento; já fui a um show do Chico Buarque. E um do Chico Anísio.
Já fui ao Maracanã e ao Engenhão.
Já abracei Chico Xavier e Divaldo Franco.
Já fui a um comício do Lula, já fui comunista e ateu.
Chupei jabuticaba no pé e fruta do conde e amora e pêssego e cana; comi lasanha e chocolate, chocolate meio amargo suíço...
Sou um privilegiado, filho do Lenier e da Suely; pai da Marina e da Deborah; marido da Jaque e padrasto da Duda. Sou irmão da Livia, da Erika e da Adriana.
Aprendi e exerço uma nova profissão aos 50 anos.
Até meu TDAH deu samba, ou um blog pra ser mais preciso. Guiado pelas melhores mãos estou conseguindo fazer do TDAH uma alavanca pra mudar de vida.
As músicas se alternam ao fundo: Maria Rita, Marisa Monte, Caetano Veloso, Gil, Ivete e Ed Motta, mais Leo Gandelman, Wilians até Village People já tocou enquanto escrevo este post em meu Atrix.
Sou mesmo um privilegiado.
Obrigado meu Deus!
Putssss... eu me emocionei lendo esse teu texto... engraçado como a gente sente falta de coisas que nunca vivemos e esquecemos de valorizar as coisas boas que ja estiveram presentes nos nossos dias!!!
ResponderExcluirOla Frank!
ExcluirEsse é um comportamento típico do TDAH, a eterna insatisfação com a vida. Estamos sempre querendo o que não temos.
Em 2007 comprei um carro 0km, lindo, completo, mas não estava feliz com ele; vivia invejando outros carros até similares ao meu.
Um dia, sem que nem por que caí na real e parei com essa babaquice.
É assim, meu amigo, sempre que me sinto assim procuro lembrar dessas coisas e valorizar o que minha vida tem de bom.
Um grande abraço e muito obrigado por suas palavras.
Alexandre