sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O TDAH E A ROTINA










Hoje tomei café da manhã com o cineasta alemão Werner Herzog, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos, eu estava adorando a entrevista; quando vi os minutos voaram e a responsabilidade me convocou. Contrariado, desliguei a TV e fui trabalhar.
A força da rotina. A força da responsabilidade. A força do dever.
Aí me veio a lembrança das críticas contumazes - não só por parte dos TDAHs – à rotina. Os portadores, então, odeiam a rotina.
Mas o que é a rotina?
Levantar cedo; cumprir horário; fazer sempre o mesmo serviço; olhar pro rosto da esposa (ou do marido) diariamente; repetir-se indefinidamente?
Não sou contra. A vida de qualquer pessoa é uma rotina.
Pense naqueles repórteres que cobrem guerras, moram no exterior. A vida é uma enorme rotina de aeroportos, hotéis e violência estúpida. Todas as guerras se parecem. O medo da morte, o cheiro da morte, a proximidade da morte. Isso é rotina.
Os grandes aventureiros; o cara já saltou 27 vezes de cachoeiras. Imagine a disciplina desse cara para se manter saudável, o corpo em forma, a alimentação adequada, a quantidade de viagens até encontrar o local ideal, quantas vezes ele entrou naquela cachoeira pesquisando profundidade, pedras perigosas. A vida é rotineira. A falta de rotina é uma rotina.
Rotina é fazer o que não se gosta, é partilhar a vida com quem não se ama mais.
O insuportável é a rotina emocional.
O amor rotineiro.
O amor que não se renova.
O amor que definha dia a dia.
Acostumamos ao convívio árido e cinzento.
Arrastamos um fardo emocional por anos a fio, muita vezes uma vida inteira.
Acostumamos a ser infelizes.
Isso é uma rotina massacrante.
De repente você perde aquele convívio, e, inesperadamente volta a conviver com você mesmo, com amigos de outrora, a conhecer novas pessoas.
E a vida se renova. Redescobrimos o brilho nos olhos, a motivação, o estímulo.
Mudar é a única solução? Creio que não. Olhar pra dentro de nós mesmos e pra dentro do outro é a solução. O que te encantou antes e por que deixou de encantá-lo agora. E isso vale pra vida profissional também. 
Houve um tempo em que você gostava da vida que levava; hoje não mais.
Por quê?

4 comentários:

  1. Pra variar seu texto está muito bom, parabéns!
    Ao lê-lo não pude deixar de pensar na minha rotina pré e pós descoberta do tdah.
    Antes, me obrigava a ser exemplar nos estudos e sempre achava q podia trabalhar e estudar cada vez mais, sem ter consequências futuras.
    Ai é que vem a fase pós diagnóstico do tdah - só depois de ter passado por vários problemas de saúde que comecei a me permitir ter limitações de rendimento. Foi ai que percebi a origem de meus problemas: um simples trauma de infância (achar que era burra)+ rotina desumana + esforço multiplicado, no mínimo, por 2 (devido ao tdah) = Aline doente e com síndrome da fadiga crônica.
    Resumindo, hoje procuro ter rotinas mais condizentes com minhas limitações e voltar a ouvir a voz do meu coração fez toda diferença.
    Abraços.
    Aline

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    1. Bom dia, Aline!
      Obrigado por suas generosas palavras. rs
      Também estou reprogramando a minha vida para reduzir as pressões a que sou submetido. Acabamos criando situações de cobrança e pressão que pioram nossa rotina.
      Adoro suas participações, mais uma vez obrigado.
      Abraços
      Alexandre

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  2. Impressionante como isso parece alguém me descrevendo... Queria tanto não ser assim, enquanto algo é novidade é tudo uma maravilha...

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  3. Cara qts Rita's vc tomou pra escrever esse texto... Ficou muito bom.... Vc tava muito inspirado... Parabéns. Difícil achar palavras como as suas.

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