quinta-feira, 21 de abril de 2011

A HIPERATIVIDADE É CONTAGIOSA ?



Hoje aconteceu um fato muito interessante. Pela manhã, fui à casa de uma moça encomendar um trabalho decorativo em madeira. Há muito não a via e jamais estive em sua casa, o que exigiu algumas voltas pela rua para encontrar o endereço. Bati campanhia e fiquei aguardando. Já achei interessante sua forma de me receber, olhou por uma fresta do portão, sorriu meio amarelo e gritou: cadê a chave do portão? Imediatamente um cãozinho começou a latir e pular incessantemente. Alguém respondeu-a, lá do fundo (também aos gritos), que não sabia da chave. Dois ou três minutos depois o portão foi aberto e ela sorridente foi dizendo: eu estou pagando tudo direitinho, hein! Achei graça, não fora ali para cobrar e sim encomendar um trabalho. Mais aliviada ela encaminhou-me à sala (que estava uma bagunça) pedindo desculpas e ajeitando as coisas jogadas em cima do sofá. Logo surgiu seu filho, também aos gritos, e depois seu marido -este bem menos agitado. E o cachorrinho que parara de latir, corria de um lado para o outro, dava saltos de mais de um metro de altura, enquanto a moça gritava com seu filho para que afastasse o cachorrinho. Enquanto eu lhe mostrava o desenho do que eu queria, ela conversava com o marido, perguntava ao filho onde havia colocado sua carteira, e me dava informações sobre como deveria fazer o trabalho que eu lhe propunha.

Para facilitar as coisas, propus enviar-lhe o desenho do meu projeto via email ; a princípio ela aceitou e começou a ditar-me seu email. De repente mudou de idéia e gritou pelo marido pedindo-lhe o pen drive emprestado. Ele disse não saber onde estava o pen drive. Imediatamente, e sempre aos gritos, ela chamou o filho para que localizasse o pen drive. O garoto sumiu casa adentro e em poucos minutos estava de volta com o tal pen drive.
Aproveitando a presença do filho, ela perguntou pela enésima vez onde estava sua carteira. O filho alegou não saber e ela protestou dizendo que ele foi à padaria de manhã cedo, portanto, teria de saber onde estava a carteira. Em meio a todo esse coversê, ela contou-me o caso de um objeto que, inadvertidamente, ela vendera para duas pessoas diferentes. Para reparar o erro, ela havia trabalhado noite adentro a fim de produzir uma nova e não ser taxada de enrolada. Por sorte eu havia chegado à tempo de encontrá-la em casa, pois em minutos ela iria sair para pegar o ônibus levando  a peça até a casa do cliente. O marido iria para outros lados levando a outra peça igual, também de ônibus. Por coincidência era meu caminho, ofereci carona ao casal. Sair da casa foi uma luta. Todos gritavam procurando tudo; a escova de cabelos, a carteira, o dinheiro do ônibus, o dinheiro para pagar o pai do marido, o endereço da cliente...
Conseguimos sair. O cachorrinho ficou saltando desesperadamente, inconformado por estar sendo deixado para trás.
Uma vez no carro, parecia uma comédia pastelão. O marido na frente ao meu lado e a esposa atrás com uma enorme peça de MDF apoiada na cabeça e falando ininterruptamente. Contavam casos de clientes felizes e nem tanto, das dificuldades financeiras por que passavam, da margem de lucro absurda dos comerciantes, e tantos outros assuntos que não consigo me lembrar mais.
Como o marido ia para outros lados, saltou antes do carro e seguimos eu e a moça. Ela continou no banco de trás com a peça de MDF na cabeça envolta em plástico bolha, que caía ao redor de seu rosto como um véu. E continuava falando...
Por fim chegamos ao destino.
Acabou!
Despedimo-nos e fui para minha casa.
Eu me sentia tão agitado que tive que parar um pouco, respirar e me lembrar se havia ou não tomado meus remédios.
Cheguei a conclusão de que a hiperatividade pega, é contagiosa. Assim como o TDAH, ela envolve toda a família, transforma a vida de todos num caos. Fiquei impressionado com a altíssima voltagem daquela família. Como devem estar exaustos no fim do dia, como deve ser difícil levar a vida naquele ritmo.
Levei algum tempo para diminuir tanta adrenalina no sangue. Voltar ao normal, somente agora, vinte e quatro horas depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário