Os sintomas são claros, evidentes, inclusive com o sofrimento, com a interferência prejudicial ao longo da vida.
Vamos lá:
Sentimento de inferioridade: Sua imensa e apaixonada torcida tem medo! Vamos ao estádio, sentamo-nos diante da TV com esperança, nunca com confiança. Dentro de nosso peito o medo da derrota inesperada, do vexame que tantas vezes se repetiu, pulsa, instiliando-nos desconfiança e descrença. Assistimos aos jogos como crianças assistem a filmes de terror, fechamos os olhos ou viramos o rosto nas cenas mais difíceis. As derrotas absurdas, os vexames históricos, as auto sabotagens, alimentam esse sentimento de inferioridade que acompanha a instituição e sua torcida.
Auto sabotagem: Assim como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, não é possível que um time de grande porte repita derrotas para adversários medíocres e despreparados tantas vezes. O Botafogo repete. Em General Severiano (sede do Botafogo) o raio cai dezenas de vezes no mesmo lugar. O Botafogo joga fora suas chances diantes de times pequenos e medíocres anualmente. Ano passado diante do Santa Cruz, um time que mesmo em seus tempos áureos jamais teve expressão nacional; este ano contra o Avaí, cuja única virtude é ter o GUGA como torcedor. Um time inexpressivo, medíocre, formado de restos de grandes equipes eliminou o Botafogo. Em 2009 o Americano, um time cuja mediocridade dispensa apresentações. Como explicar um time que coloca CEM MIL torcedores no Maracanã e não consegue fazer um único gol contra o Juventude? Juventude, você conhece? Ninguém conhece. Ou não conhecia. A única conquista de expressão veio em cima do Botafogo, time que tinha o Bebeto e outros jogadores conhecidos e não conseguiu ganhar de um a zero do Juventude. É ou não é auto sabotagem?
Não aprender com os próprios erros: Mais uma característica típica dos portadores de TDAH. Entra ano e sai ano o Botafogo é eliminado precocemente da Copa do Brasil. Entra time e sai time, entra diretoria e sai diretoria, muda tudo, só não mudam os resultados. As derrotas inesperadas, as entrevistas recheadas de justificativas e de esperanças no futuro. Mas o resultado final permanece. Por que? Não aprendeu neste ano a fazer diferente do ano passado e repete indefinidamente seus erros, suas falhas de planejamento, seus equívocos estratégicos.
Atração pelo risco: Assim como todo TDAH, o Botafogo tem atração pelo risco. Joga todas as suas fichas em atitudes absolutamente inexplicáveis. Ano passado, quando se viu surrado pelo vasco demitiu um técnico medíocre e inexpressivo, substituindo-o por uma cara pragmático, objetivo e vencedor. Este ano, após alguns tropeços Joel Santana saiu e trouxeram o Caio Junior. Quem é esse? Um grande conquistador. Talvez de mulheres, títulos nenhum. Teve um atuação razoável dirigindo o Paraná Clube (quem?) e só. Saiu pela porta dos fundos no flamengo numa passagem que quase ninguém se lembra. Resultado? Nenhum. Em trinta dias perdeu a chance de disputar dois títulos. Diante de grandes clubes? Não, diante de equipes ridículas como o Avaí ou Resende. Emprestar seu carro caríssimo - comprado financiado - a um sujeito que não sabe dirigir direito, é uma atitude arriscadíssima. E desnecessária.
Descontrole financeiro: Outra característica típica do TDAH. Ainda que não seja responsabilidade ou culpa da atual diretoria (disparadamente a melhor dos últimos 15 anos), e não é, em algum momento da vida o Botafogo gastou mais do que arrecadava, desfez-se de patrimônio e acumulou divídas. Hoje não é mais assim, mas as dívidas feitas no passado ainda punem o presente. Como todo bom TDAH.
Desatenção : Vender seu único jogador de meio campo, foi uma pequena desatenção. Ninguém percebeu que não tinham peças de reposição. Venderam a caixa de marchas do veículo e 'não repararam' que não havia outra para colocar no lugar. Aí, após os insucessos dentro de campo, ficam comentando sobre a falta de um jogador capaz de articular as jogadas. Ninguém percebeu isso?
Existem coisas que só acontecem ao Botafogo : Essa máxima acompanha a vida do Botafogo. Ao longo de meu meio século de vida, ouvi isso inúmeras vezes. Parece que a vida conspira contra o Botafogo. Erros crassos de juiz e bandeirinha, bolas impossíveis que entram, ou absurdamente fáceis que não entram, fatores extra campo inexplicáveis. A imprensa usa essa frase corriqueiramente para explicar o 'azar' que acompanha o Botafogo.
O portador de TDAH sabe do que estou falando. Esse 'azar' acompanha a vida de todos nós. Mas, esse 'azar' nada mais é do que a soma de todas as características de nossa doença, que desaguam em sucessivos fracassos. Não são 'azares' fortuitos, são consequências de nossos erros, de nossas atitudes impensadas, de nossa impulsividade.
EXISTEM COISAS QUE SÓ ACONTECEM AOS PORTADORES DE TDAH, SEM TRATAMENTO.
E o Botafogo não se trata.
Continua repetindo as mesmas atitudes, os mesmos comportamentos, desprezando o medicamento, o coaching ou a terapia.
Todos os dias temos batalhas a enfrentar, obstáculos a vencer, não podemos entrar nisso despreparados. Não brinque com sua vida, ela é valiosa demais.
Trate-se, cuide-se, e você vai descobrir que essa frase que acompanha o Botafogo, deixará de fazer parte de sua vida, como deixou de fazer parte da minha.
Amigo isso tudo precisa virar um livro... Fantástica analogia! E eu nem sou botafoguense... Achei o seu blog numa materia na TV onde você foi entrevistado. Foi um programa que me chamou a atenção porque tenho um enteado, o Frederico, hoje com 24 anos cujo comportamento se encaixa perfeitamente em tudo o que eu assisti e até agora li aqui. Parabéns pela sua luta e pelo seu blog. Seu texto é muito bom. A propósito, sou corinthiano (sei, ninguém é perfeito...) e nunca havia entendido como era capaz uma torcida em casa, uns 45, 50 mil, o time jogando o primeiro jogo de um torneio mata-mata, favorito, (a tal copa do Brasil!) aos 20 min do primeiro tempo vaia o seu time em peso (!) só por causa de um gol tomado e assim permanecendo até o intervalo. Hoje, lendo o que você escreveu consigo entender. Abs. Ricardo Racovitza ricardo.racovitza@hotmail.com
ResponderExcluirOlá Alexandre
ResponderExcluirConcordo com o que o Ricardo postou acima, brilhante associação.
Louvável também a coragem de criar um blog para falar de um assunto que incomoda, por vezes, mais as pessoas que convivem conosco e querem fazer de conta que está tudo bem (nossas famílias). Um desenho que me fez pensar bastante sobre o TDAH antes do diagnóstico foi "O Fantástico Mundo de Bobby", exibido pelo SBT durante minha infância.
Abraços
Patricia