Mas voltemos à pressão. Todos os meus compromissos registro no celular, que apita o dia inteiro me lembrando disso ou daquilo. Tenho uma relação de amor e ódio com ele, a cada vez que apita, xingo-o, esbravejo, e às vezes, nem confiro. Lembro-me de cabeça do que se trata.Mas não deixo de anotar, adio várias vezes por dia, às vezes empurro de uma semana para outra, mas ele não desiste, apita, apita, apita. Marina, minha filha, vive me pedindo para tirar o som ou mudar o toque. Não faço nem uma coisa nem outra, esse som alto e estridente, possui o dom de me colocar em alerta, de me estressar. Muitas das vezes, ele toca seguidamente e, quando vou olhar, constam seis, sete lembretes. Aí é hora da faxina. Elimino aqueles que cumpri, adio os que podem ser adiados - nem sempre com toda essa isenção - e edito alguns para que voltem a me assombrar de outra forma ou em outros dias. O toque do celular me lembra do que não fiz, do que devo fazer, do que deixei para depois.
Em dias como o de ontem, fico irritado, agitado, às vezes até um pouco perdido. O que fazer agora? Qual é a minha prioridade maior? Claro, que como bom TDAH, opto por aqueles que me darão mais prazer, ou os que me são mais caros - e neste caso não falo financeiramente - e adio ou procrastino coisas velhas ou que me irritam. Mas não deixo de anotar no celular. Ao contrário da agenda, que fica quieta, passiva no fundo de uma gaveta, o celular me acompanha aonde vou e não aceita ser ignorado, mesmo quando finjo não ouvir sua campainha, ele fica com a tela piscando a me cobrar a checagem do que programei para aquele dia, se o abro para telefonar, existe um ícone na tela avisando que existem compromissos pendentes. Um inferno! E por isso, funciona. Claro, ele não pode solucionar uma das questões mais importantes do TDAH, priorizar as tarefas ou compromissos, mas me lembra de forma eficiente do que estou esquecendo.
Certa vez, me sugeriram fazer um quadro de prioridades: o que era urgente, muito importante, importante, e assim por diante. Não consegui definir; para mim, tudo era urgente, ou muito importante. As tarefas que não se encontravam nesta categoria, não importavam, não precisavam ser feitas. Abandonei o quadro.
Agora, escrevendo este post pensei numa solução para o quadro de prioridades: Urgentíssimo, Urgente urgentíssimo, urgente, urgente menos , muito importantíssimo, importantíssimo, muito importante, e assim por diante. Acho que era só uma questão de nomenclatura.
Acabo priorizando por gosto, prazer ou simpatia. Não sei se isto está certo, mas é assim que funciona.
Com toda a pressão de ontem, acho que me comportei bem. Não entrei em erupção nem uma vez, não briguei com ninguém, ainda tive uma ótima conversa com minha filha mais velha a respeito de seus projetos para o futuro.
Viva a Ritalina! Viva a Sertralina! Viva a calma!
Viva a vida!
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