segunda-feira, 11 de julho de 2011
TDAH - SOLITÁRIO NA MULTIDÃO!
O TDAH é um mal que devemos combater constantemente, porém algumas de suas características parecem que jamais desaparecerão; nem mesmo com a ritinha (lina). A impaciência é uma delas. No momento em que escrevo este post, estou sentado em uma poltrona de teatro aguardando a apresentação de dança de minha filha mais nova.São duas horas de espetáculo para dez ou quinze minutos de participação de minha filha.
Adoro ver minha filha dançar, mas uma hora e quarenta e cinco minutos de filhas alheias é torturante.
Já disse aqui que prefiro séries à filmes; adoro futebol, mas mesmo os jogos do meu Botafogo, assisto com o notebook aberto ou lendo alguma coisa. Engraçado que não sou o tipo inquieto, ler é uma coisa de que gosto demais. Mas na leitura, eu faço meu tempo, começo e paro quando eu quero. Por isso, prefiro assistir a filmes (quando assisto)em casa. Levanto-me várias vezes, bebo água,enfim, 'pico' o filme várias vezes. Saber que 'tenho' que ficar duas horas preso a uma cadeira é o diferencial negativo. Consulto o relógio inúmeras vezes, a poltrona vai endurecendo e dela brotam invisíveis espinhos que me impedem de ficar na mesma posição.
Procuro ao redor pessoas tão entediadas quanto eu.Para minha surpresa não as encontro. Algumas pessoas parecem extasiadas com o espetáculo, tão encantadas que parecem assistir a uma apresentação do Ballet Bolshoi. Urram, suspiram e aplaudem com um frenesi inacreditável. Na verdade, isso me parece uma demonstração de amor às filhas um tanto forçada.Os pais mais jovens berram os nomes das filhas a plenos pulmões, como que para anunciar aos vizinhos de poltrona: 'veja como amo minha filha'. Ao que os vizinhos respondem com urros e assovios ainda mais estridentes, culminando numa enorme chuva de perdigotos, uns sobre os outros. O pior, é que mesmo quem não participa do festival do frenesi pode acabar vítima de um perdigoto perdido.
Fico me perguntando se sou normal, mesmo. As pessoas estão à minha volta perplexas diante deste espetáculo de dança, luzes e música e eu aqui, escrevendo esse post no celular.
A parte da minha filha já passou, agora fico na expectativa de quando acabará. De seis em seis meses é assim; ela adora essa apresentação, e neste ano ela estava linda e perfeita como sempre, mas e o resto, meu Deus? Não é de todo ruim, tem algumas boas danças, ótimas músicas, mas é longo, demasiadamente longo. Não há ritalina que apague essa sensação de tortura, de aprisionamento.
E mais urros, e mais assovios, mais demonstrações descabeladas de amor às filhas. Sempre fico na expectativa de que alguém salte do segundo andar do teatro, esborrachando-se lá embaixo numa prova de amor incondicional à filha que se apresenta. Do palco a 'homenageada' gritaria: 'oh papai(mamãe) eu sabia que você me amava mais do que quaisquer outros pais amam suas filhas'. Segue-se um silêncio de perplexidade e de repente um grito de protesto cortaria o silêncio da multidão atônita: 'nuncaaaaa!!!!!!!'.
Uma chuva de pais e mães cairia sobre a platéia do andar inferior, numa demonstração explícita e dramática do amor maior. Casais mais enfáticos saltariam de mãos dadas, ou abraçados, numa prova cabal de sacrifício explícito.
Me incomoda a necessidade que as pessoas tem, hoje em dia, de demonstrar seu amor à Deus, à família, à esposa, aos filhos, aos animais.Enormes adesivos nos carros anunciam seu amor ou sua opção por essa ou aquela causa. O máximo para mim foi um carro em que o motorista estampava em letras enormes no vidro traseiro: 'nosso bebê está chegando...'. A quem interessa essa informação tão relevante? Só consigo enxergar isso como uma auto propaganda: ' olhe como somos bons e sensíveis' ou do tipo 'veja como sou religioso', etc.
O espetáculo entra em seus minutos finais, meu sofrimento chega ao fim, com ele esse post surrealista. Escrito num teatro lotado, escuro, em que eu pareço ser o único sujeito a destoar desse frenesi de amor explícito.
Quem já leu " O Alienista" - de Machado de Assis - sabe do que estou falando.
Fecham-se as cortinas.
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Amei o texto! Como vocês escreve bem...
ResponderExcluirLhe descobri assistindo uma reportagem sobre TDAH no canal do YouTube da TV Brasil.
Vou ler outros posts depois.
Eu me identifico bastante com as características de quem TDAH, mas não fui diagnosticado por nenhum especialista. Pretendo um dia, mas acho que tenho mesmo, pois explica muita coisa que vivi, que vivo, meu jeito...
Oi Caco, obrigado por suas palavras.
ResponderExcluirNão adie mais, procure ajuda especializada.
Você não imagina como nossa vida muda.
Aproveite a vida de maneira saudável e prazeirosa.
Um abraço
hhahaha você é demais escrevendo Alexandre! Parabéns!
ResponderExcluirps.: n é preciso ser tdah p concordar com vc hahaha
Obrigado, Júlia. Pelo menos você me entendeu.
ResponderExcluirkkkkkk
Cara, parabéns pelo post! Que imaginação! Ri muito! Parabéns pelo blog e pela ótima escrita. Já pensou em escrever um livro? Ou não conseguiria terminar? (eu já tentei, tinha várias ideias na cabeça, começava um monte de uma vez, mas não terminei nenhum, conseguia chegar só na metade!). Parabéns mesmo! Flávia
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