sexta-feira, 7 de setembro de 2012
TDAH - FIQUEI PIOR DEPOIS DO DIAGNÓSTICO
Imagine a seguinte situação: adulto, cerca de quarenta anos você se descobre TDAH. É diagnosticado, seu médico prescreve os medicamentos e você começa seu tratamento. O primeiro problema é o alto preço dos remédios. Você vive de salário, despesas contadas, tudo na ponta do lápis e o remédio pesa no orçamento. Segundo problema: o medicamento apresenta alguns efeitos colaterais desagradáveis, como você não tem dinheiro para uma nova consulta, suspende o medicamento. Mas ele te trouxe alguns benefícios, alguns problemas de desatenção e procrastinação praticamente sumiram com o tratamento, você ficou mais produtivo. Mas e os efeitos colaterais? Nesse caso você toma a decisão de somente usar o medicamento em casos ou períodos específicos. Em épocas de maior aperto no trabalho, épocas de prova na faculdade, ocasiões que julgar necessário.
Até aqui não tem nada de muito diferente, daqui pra frente é que a coisa muda de figura.
O caso que vou narrar aqui é verdadeiro e me foi contado por uma amiga virtual do blog.
Ao ser diagnosticada, minha amiga ficou pior. Ela não sabe dizer direito se passou a se policiar ( e aí reconheceu os sintomas) ou se 'assumiu o papel de TDAH' e agora age como tal. O certo é que sua família acha que ela piorou depois do diagnóstico. Ficou mais nervosa, mais ansiosa, mais veloz, acumulou mais trabalho, criou hobbies que não existiam e passou a reclamar da vida atribulada que leva.
Parece que ao se ver diagnosticada ela meio que se auto sugestionou e passou a se comportar como um 'manual de TDAH'. Claro que ela nega ou não enxerga isso, mas a queixa é de que sua família está cobrando que ela volte ao normal; ou trate-se corretamente para se livrar do TDAH. E aí ela se vê numa sinuca de bico, o remédio lhe dá efeitos desagradáveis: ela sem plano de saúde não pode pagar por consultas médicas (caríssimas na cidade onde vive) ou por tratamento psicológico e fica nesse círculo vicioso.
Existe uma tendência natural de, ao nos sabermos TDAHs, todos os nossos comportamentos, mesmo aqueles mais corriqueiros, creditarmos ao TDAH. Isso é natural no princípio do tratamento ou quando estamos no meio de outros TDAHs. mas, pelo que entendi, ela foi diagnosticada no mínimo há dois anos e tudo dela ainda passa pelo TDAH. E não se trata.
Segundo me disse ela tem dois empregos (é professora); coisa que não tinha antes. Aumentou o número de aulas para ganhar um pouco mais. Descobriu-se pintora, passou a fazer pinturas abstratas com a aprovação do marido e dos filhos. Agora inventou aulas de canto, o que aumenta sua despesa, sua necessidade de deslocamento pela cidade e consequentemente seu estresse. E reclama de tudo. Da vida, dos programas de TV, das roupas e dos comportamentos dos jovens, de seus alunos. Enfim, o mundo é uma porcaria. Sua cabeça fervilha de pensamentos ao ponto de levantar-se de madrugada para pintar ou ler ou escrever.
Segundo seu marido ela deixou de ser TDAH para ser louca mesmo; de carteirinha.
Todos ficam com saudade do tempo em que ela não sabia que tinha TDAH e era apenas uma mulher distraída e 'gastadeira'. Agora ficou distraída (não se trata), pão dura, nervosa, irritadiça, fala sem parar em TDAH e na sua luta para enfrentá-lo, e apresenta sintomas que não tinha antes.
Não sou médico, não posso afirmar absolutamente nada, mas creio que o diagnóstico pode criar uma espécie de obsessão, sei lá uma paranoia. A pessoa passa a 'representar' aquela doença.
Quando fui diagnosticado, passei a diagnosticar todas as pessoa que me cercavam. Claro que nunca falei nada a ninguém. Num dado momento lembrei-me do Dr Simão Bacamarte, do livro "O Alienista" de Machado de Assis. No livro o Dr. Bacamarte volta da Europa,onde havia estudado psiquiatria, e cria em sua cidade um hospital de loucos e ali começa a internar as pessoas que ele diagnostica com doenças mentais. O livro é uma delícia, e em dado momento toda a cidade(incluindo o prefeito e outras autoridades) estavam internados na Casa Verde. Aí o Dr. Bacamarte cai na real, solta todo os internos de seu asilo e interna-se ele mesmo na Casa Verde.
Isso estava acontecendo comigo, todo mundo pra mim tinha TDAH. Hoje procuro evitar esse comportamento. Praticamente só falo em TDAH no blog ou nas reuniões do Mente Confiante. De resto procuro 'esquecer' o assunto. Tento evitar que o diagnóstico de TDAH seja mais um dos transtornos que ele provoca em minha vida.
Não sei dizer exatamente o que minha amiga TDAH Paulistana deve fazer. Em primeiro lugar, creio, rever seu dia a dia. Cancele essas aulas de canto e tente encarar seu hobbie como isso que ele é: um passatempo. Aprendi com minha coach o seguinte: você consegue mudar essa situação? Se não for possível interferir, alterar, mudar, esquece. Se você, Paulistana, não pode viver de suas pinturas, use-as como hobbie, e só isso. A pintura é um prazer.
Andar quase uma hora de carro para ir a aula de música é uma tortura, deixe disso.
Examine se o dinheiro extra que entra compensa seu sacrifício e o de sua família. Vale a pena deixar os filhos por essa graninha a mais?
Por último, esqueça o TDAH! Se você não pode tratar-se (ou não quer) estude-o para combatê-lo, para reconhecer quando ele está agindo em você e não para se transformar em sua refém.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Extremamente relevante este assunto! Sempre bom fazer uma auto-análise.
ResponderExcluirPerfeito.
Oi Ana Beatriz!
ExcluirObrigado por suas generosas palavras.
Na verdade, essa auto análise deveria ser feita por todos, TDAH ou não.
Um abraço
Alexandre
Alexandre, tem como vc adicionar um ECHO no seu blog, assim poderíamos quem tá on line conversar e trocar experiencia ao vivo.
ResponderExcluirSobre o assunto, estou quase me considerando uma Psiquiatra, ja li tanta coisa sobre transtornos, coisas da mente, tudo depois do TDAH que já fiz até uns diagnósticos kk
Pra mim, mesmo sabendo da procrastinação por exemplo,eu não consigo deixar de fazer. Mesmo depois do medicamento, tbm não sei como está no inicio posso esta colocando muito expectativa em cima.
Oi amigo.
ExcluirDifícil né?
No meu caso eu tenho de ter um pouco de paciência; imagina 50 anos de determinados comportamentos cristalizados não serão mudados de uma hora pra outra. Nem com remédio é fácil. Mas não vamos desistir, cada dia que sobrevivemos é um passo a mais rumo ao sucesso.
Um abraço
Alexandre
Olá Alexandre! É a primeira vez que resolvi me manifestar, pois, este texto retrata fielmente como me senti, como cuidadora, quando meu ex-marido descobriu que era portador. Simplesmente eu já não o conhecia mais, isso depois de estarmos juntos por 16 anos. Não credito que tenha sido só este o motivo de nossa separação, mas, que tornou impossível qualquer tentativa de recuperar o que estava abalado. É o que ficou foi uma enorme sensação, para mim, que nos perdemos no dia que ele foi diagnosticado como TDAH.
ResponderExcluirOla!
ExcluirObrigado por sua participação.
No princípio é realmente complicado, até mesmo pela adaptação ao medicamento. O principal é nos policiarmos para não nos tornarmos vítimas do diagnóstico. A realidade é que ficamos meio atordoados com o diagnóstico na vida adulta; quando crianças aceitamos meio por imposição dos pais. Adultos, passamos a questionar tudo e todos.
Coitado daqueles que convivem conosco.
Um abraço
Alexandre
Eu tbém quase virei uma psicologa, depois de ser diagnosticada com tda, comecei a ler livros, artigos, ver videos, blog, tudo que tinha tdah no meio eu estava vendo, quando me sentia mal eu lia sobre o tdah, assim não me sentia tão estranha.
ResponderExcluirAdoro o seu blog !!!
Isso é inevitável, Silbene.
ExcluirAcho até que exageramos nessa nossa sensação de estranhamento. Eu por exemplo cheguei aos 50 anos com uma vida aparentemente normal, tinha até mesmo um certo sucesso em algumas áreas.
O meu problema sempre foi comigo mesmo. Sempre me castiguei e aos que me cercam; sempre me auto sabotei e consequentemente às pessoas que conviviam comigo.
Somos tão pouco estranhos que existem até "médicos" que duvidam da existência de nossa doença.
Obrigado por sua participação e pelo elogio!
Um abraço
Alexandre
"Somos tão pouco estranhos que existem até "médicos" que duvidam da existência de nossa doença."
ResponderExcluirAdorei essa seua frase. Afinal de contas não rasgamos dinheiro e nem tacamos pedras nos outros.kkkk
Gostaríamos de convidá-lo (a) para o primeiro Ciclo de Palestras que será dirigido pela médica psiquiatra e escritora Dra Ana Beatriz Barbosa Silva e vai discutir temas atuais sobre o comportamento humano, entre eles o tdah, hiperatividade, desatenção e ansiedade.
ResponderExcluirMais informações: (11) 3791-9599 de segunda a sexta das 09:30 as 12: 30 e das 13:30 as 18:30 ou www.cpalestras.com.br
eu consegui remedio pelo Ministerio Público.
ResponderExcluir