sexta-feira, 5 de outubro de 2012
O FESTIM DIABÓLICO DO TDAH
Logo ao primeiro olhar vê-se que comemoram uma vitória. Uma vitória há muito desejada, com o sabor dos velhos tempos, a comemoração da volta ao passado.
Do local onde se reúnem, os sabotadores apreciam a derrota das novas forças. Do alto de sua vitória organizam um banquete regado a bebida, comida e sangue. Sangue? Sim sangue. Não o sangue concreto dos mortais, mas o sangue derramado por aqueles que representavam a nova vida, uma vida de conquistas e novos caminhos. Ah, os sabotadores se cumprimentavam uns aos outros recordando os tempos de glória, um tempo em que exerceram o império absoluto. um tempo em que derrotas como a de hoje eram constantes e os enchia de energia e orgulho.
O festim de hoje trazia um clima de euforia, quase histeria, há tanto tempo não se reuniam, não comemoravam uma grande vitória.
Recordavam os melhores momentos, os momentos em que me deixaram crer que caminhava no sentido correto. Sozinho, no silêncio da madrugada, julguei montar uma estratégia perfeita para enfrentar o embate que se avizinhava. Criei a maneira perfeita de induzir minha oponente ao erro, de desmascará-la deixando-a sem argumentos para sustentar sua tese alicerçada na mentira.
Cheguei cedo ao local, repassei cada detalhe sem perceber que naquele momento já se inciava em minha mente o Festim Diabólico do TDAH. Meu sabotadores já comemoravam minha derrotada iminente, àquela altura não tinha volta, meu exército já se encontrava no fundo do desfiladeiro cercado de índios por todos os lados (imagem típicas dos filmes de faroeste da minha infância). Mas, o tombo é muito maior quando cremos que estamos no pleno domínio da situação. Minha atuação era convincente e mantive-me bem próximo daquilo que havia planejado, mantive-me firme na minha posição, não transigi.
Então veio a queda, a decepção, a frustração, a raiva de mim mesmo, a enorme vontade de me auto punir.
Uma pergunta simples e óbvia: documentos que validam sua presença nesta audiência?
Um raio atingiu-me a alma. Não os trouxe, sequer lembrei de sua necessidade.
Neste momento fogos espoucaram encobrindo o som das garrafas de champanhe que eram abertas em meu Lobo Pré Frontal; a comemoração até então discreta era agora feérica, monumental. Os longos meses de hibernação acabaram, a miríade de sabotadores está de volta. Alguns deles pálidos esquálidos, mas com sua capacidade de agir sorrateiramente intacta. Os sabotadores dançam e cantam no meu Córtex Cerebral, alguns estão tão animados se sentindo-se tão fortalecidos que sonham com a volta do tempo em que dominavam quase todo o meu cérebro e se preparavam para tomar de assalto minha alma.
Saio do prédio às pressas, envergonhado, humilhado, entorpecido pela pancada.
Sou eu o único responsável. Ainda no carro procurei mentalmente alguém em quem lançar a culpa, mas não há. Eu fui displicente, tudo parecia tão fácil, tão óbvio, tão primário. O comportamento típico dos velhos tempos: altas elocubrações, estratégias mirabolantes para induzir o adversário ao erro e não levei um único documento que validasse minha presença naquele embate. Grosseiro, simplesmente grosseiro.
Senti-me, como outrora, um biltre. Um irresponsável incapaz de dirigir a própria vida.
Ao atravessar o rio em direção ao trabalho, deu-me uma imensa vontade de atirar-me da ponte com o carro e tudo.
Mas isso seria a coroação da derrota, a entrega final aos sabotadores; uma overdose de TDAH.
Cheguei na loja à beira do desespero; sentia-me a última criatura do reino animal. Estava eu assim, completamente absorto em meu auto flagelo quando chegou uma senhora humilde cujo filho havia quebrado o cartão de memória dentro de seu celular. Sei lá por quê, algo no seu jeito de falar me levou a pegar seu aparelho e resolver a questão na hora, coisa que raramente faço.
Entreguei-me àquele trabalho por uns quinze ou vinte minutos; ao final, ao devolver o celular a ela com o problema resolvido eu era uma outra pessoa. Alguns minutos de concentração em meu trabalho, coroado com uma das dezenas de pequenas vitórias que tenho ao longo dos meus dias trabalhados, me regeneraram. Eu sei o que estou fazendo e faço bem feito.
Ninguém é perfeito, com ou sem TDAH. Tomei uma cacetada violenta que quase me derrubou, mas hoje eu tenho meu trabalho de onde tiro uma série de compensações e prazeres diários e isso me faz feliz.
Aprendi mais uma hoje, aos quase 52 anos: não subestimar meus sabotadores. Eles não dormem, apenas cochilam esperando um vacilo, um momento de distração para tomar minha mente de assalto.
Cabeça erguida e pé na estrada. A ferida sangra, mas sua cicatriz tem de ser um marco nesse longo aprendizado de combate ao TDAH.
Os sabotadores comemoram em meu cérebro, mas no entorpecimento da festa eles não perceberam que cambaleei, mas não caí.
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Bom dia meu amigo Alexandre,
ResponderExcluirFaço parte de um grupo sobre Tdah no facebook, ao entrar na página me deparei com um post de um dos membros sobre um documentário postado no youtube que me deixou muito preocupada e com muito receio, gostaria de convida-lo a assistir pois queria sua opinião se fosse possível..http://www.youtube.com/watch?v=eVTtxB0Ne10&feature=relmfu
o documentário foi dividido em 18 partes e achei muito interessante e me deixou com muita duvida.
grande abraço
Bom dia, Elizelma!
ResponderExcluirAmiga, apenas comecei a ver o documentário e não terminei. Me pareceu extremamente tendencioso e primário. Em determinado capítulo falam dos soldados que tomavam remédios controlados, é altíssimo o número de ex combatentes loucos, psicóticos e traumatizados. Eles devem sim ser medicados, acompanhados e tratados. Não acredito em hipótese nenhuma em médicos comprados - em massa, no mundo inteiro - pela indústria farmacêutica. E sabe por que, minha amiga, por que eu me trato e sou uma pessoa melhor quando tratada. E não sou melhor para os outros, sou melhor para mim mesmo, para a minha vida.
Claro, existem milhares de interesses em tudo nesse mundo, inclusive das pessoas que venderam esse documentário para uma rede de TV, ou sei lá quem financiou isso. Na verdade, minha ótica é a seguinte: faz bem pra mim, melhorou minha vida? Dane-se as opiniões em contrário. Minha médica é TDAH e se trata; uma de suas filhas também, e também se trata. Os mal intencionados não usam em si próprios e em seus entes queridos.
Se você quer ver o outro lado, veja esse documentário da TV Brasil, uma rede pública de TV e no qual eu participo.
Achei inclusive que eu deveria ser indicado ao Oscar por essa participação, mas isso é outra coisa. rsrsrs
http://www.youtube.com/watch?v=0-1Nsdi_ois
http://www.youtube.com/watch?v=IuL-NhZQ_Lc
http://www.youtube.com/watch?v=1t25GLpchSY
http://www.youtube.com/watch?v=HffgVkpHEaE
Minha magnífica participação se dá na última parte. rsrs
Tudo na vida tem dois lados, eu prefiro acreditar na Organização Mundial da Saúde do que em supostos messias que ninguém conhece que querem se arvorar em defensores da humanidade e caça fantasmas.
Um abração
Alexandre
Obrigada Alexandre por me responder, seu ponto de vista foi de muita importancia assim como seu blog...sempre to lendo seus posts me ajuda muito vc nem imagina o quanto, assim acabo me conhecendo melhor...
ResponderExcluirgrande abraço..
Não precisa me agradecer Elizelma. Estamos num bate papo e é um prazer conversar com você.
ExcluirNão some não.
Sabe, minha amiga, tenho um pouco de resistência a essas coisas de 'complôs' em qualquer área.
Existem pessoas que ao ouvirem uma porta bater logo imaginam que seja um fantasma e não o vento.
Um abraço
Alexandre
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu querido... A quanto tempo não nos falamos mas leio seu blog sempre. Já a alguns post q tenho associado a um amigo. Mas esse ultimo, teve um Q de certeza...Ele precisa de ajuda. Da sua ajuda, de orientação de tudo que for possível. Indiretamente vc o conhece, através de mim. Johann... Encaminhei a ele de novo, o end. do blog, porem me parece q resistir a qualquer ajuda, faz parte do problema. Espero q vc consiga, sua escrita ainda me fascina e tenho certeza q ele uma hora aceita... Beijos, obrigado e parabéns... Adoro lê-lo.
ResponderExcluirOOOOIIIII, Anay. Quanto tempo!
ExcluirFico até ruborizado com seus elogios! rsrs
Realmente, minha querida, a negação faz parte do TDAH. Temos de atingir o fundo do poço, muitas vezes nos enterramos no fundo poço, antes de buscar ajuda.
Que bom que você não desistiu de mim. rsrs
Beijos
Alexandre
OI MEU NOME É RENATA E TENHO TENTADO ME ENTENDER NA ESCOLA FUI UMA CRIANÇA INTELIGENTE MAS SEMPRE NO MUNDO DA LUA... TINHA PROBLEMAS DE RELACIONAMENTO MAS COMO MEU RENDIMENTO ERA BOM NUNCA LEVARAM A SERIO. ENQUANTO MEUS COLEGAS ESTAVAM TENDO DIFICULDADES DE ESCREVER UMA REDAÇÃO E ESCREVIA A MINHA E A DE UMA COLEGA DUAS SOBRE O MESMO TEMA NO PERIODO QUE ERA PRA FAZER UMA. MAS MINHA VIDA ADULTRA NÃO É NADA BRILHANTE NUNCA CONSIGO TERMINAR UM PROJETO SOU COMPLETAMENTE DESATENTA (EM COISAS QUE NÃO SOU INTERRESADA) E PRINCIPALMENTE DESOGANIZADA.
ResponderExcluirAGORA TENHO DOIS MENINOS UM VAI MUITO BEM NA ESCOLA MAS É DESTRAIDO JÁ O OUTRO É TÃO DESTRAIDO QUE TEM DIFICULDADES ESCOLARES A PISCICOLAGA DA ESCOLA ME CHAMOU E A NEURLOGISTA FALOU QUE DEVE SER TDA, ELES NÃO SÃO ASSIM COMO EU TAMBEM , SUPER AGITADOS NA VERDADE PARECEM ESTAR NO MUNDO DA LUA. EU FALEI PARA PISCICOLoga QUE TMB TINHA E ELA ME DISSE VC JÉ TEM 35 ANOS NÃO ADIANTA MAIS. MAS SE EU ME ENTENDER JÁ VAI SER UM GRANDE ALIVIO.
Oi Renata.
ExcluirEm primeiro lugar essa psicóloga está completamente equivocada. Você não atingiu nem a metade de sua vida e tem o direito, até mesmo o dever, de mudar seu futuro. Tratar-se pode até mesmo servir de exemplo para os seus filhos. Fui diagnosticado aos 50 anos e hoje, menos de dois anos depois tenho outra vida. Claro, minhas falhas não acabaram, o tratamento não é um passe de mágica, mas minha vida melhorou demais. Até uma nova profissão eu aprendi.
Trate-se Renata, você e sua família merecem essa oportunidade de ter uma vida melhor.
Abraços
Alexandre
Prezado amigo tenho tdah mas não consigo estabilizar com as medicacoes ,alias sou medica,mas estou desistindo de tudo pois não consigo organizar nada,minha família nar quer uma preguicosa.Procurei a associação varias vezes e sai com as mesmas medicacoes e respostas que não foram a minha resposta.socorro.
ResponderExcluirBom dia, amiga!
ExcluirSe quiser conversar mais pode me mandar um email: schubertsax@gmail.com.
Preguiçosa eu sei que você não é, você tem TDAH o que é muito diferente. Agora, você só pode contar com você mesma. A nossa família, e nossos amigos nunca acreditam plenamente que existe o TDAH, ou que temos o transtorno (pior ainda no seu caso que se formou em medicina).
Sabe o que me ajuda muito? Esse blog. Sente e escreva sua vida, pra você mesma se não quiser fazer um blog. Ficamos perplexos com as idiotices que fazemos. Você tem de se policiar, tem de parar por 2 segundos e pensar: isso que eu quero(ou estou fazendo) sou eu ou é o TDAH agindo? A partir do momento em que nos reconhecemos ou enxergamos a doença agindo, podemos nos defender dela com menos dificuldades.
Se quiser desabafar ou trocar experiências, pode me mandar um email. Escreva o que você sente, você vai entender o que estou falando.
Um grande abraço e jamais se entregue, sua vida é mais importante do que sua família, amigos ou profissão.
Alexandre
Não sei se voltou ou não ao blog, mas estou pensando em você. Como você está? Tem conseguido se estabilizar? Você tentou o Venvanse?
ExcluirPensei em outra coisa, por que vc não entra em contato com a minha médica. Ela é uma pessoa espetacular e portadora , como nós, de repente seria uma ótima ajuda pra você, de médica pra médica.
O email dela é: menteconfiante@yahoo.com.br.
Espero tê-la ajudado.
Abraços
Alexandre