sábado, 21 de dezembro de 2013
TDAH: EU NÃO CONSIGO SAIR DE MIM MESMO
O que nos leva, Walter Nascimento, a ficar paralisados num sofá, diante da TV, ou simplesmente inventar um motivo qualquer para não conviver com pessoas de quem gostamos?
E por que, Walter, as pessoas não respeitam nossa vontade de recolhimento? Ao contrário, insistem em nos chamar, em reforçar nosso constrangimento. Sempre tem alguém que se julga especial ou diferente, que acha que seus argumentos farão a diferença; e insistem ainda mais.
Eu não sei com você, amigo Walter, mas comigo, quanto mais insistem, mais eu empaco. Sim, esse é o termo, empacar. Como um burro velho, eu empaco e nada, nem ninguém, me faz mudar de ideia.
Mas por quê? Não sei. Costumo usar a expressão 'preguiça de gente' pra definir essa necessidade de isolamento, essa vontade de não ir a encontro de pessoas que, como você disse em seu comentário, eu posso nutrir um carinho especial. E o pior, Walter, essa inércia não é indolor. De maneira alguma; não ir ao encontro dessas pessoas dói, incomoda, constrange. Mas, não tenho forças pra vencer a inércia. Paralisado, troco o convívio por nada, por ficar diante da TV, ou de um livro, ou por coisas que eu poderia fazer em outro dia ou outra hora. Sinto que preciso sair, encontrar amigos e parentes, mas não vou; mantenho-me, confortavelmente, na minha casa, no meu mundo, naquilo que não me agride, não me testa, nem me contesta. Como um cego, opto por aquele ambiente onde me movimento com facilidade, não esbarro em nada, nem corro nenhum risco.
Paralisado em meu sofá fico a pensar nas desculpas ou nas explicações que terei de dar ao me encontrar com aquelas pessoas. Isso também tortura, mas achar uma boa desculpa é um lenitivo; uma quase vitória. Um quase prazer. Não ir é uma vitória. Não ceder às súplicas das pessoas tem lá o seu sabor.
Mas será só isso?
Será só preguiça?
Só de marcarem um evento qualquer comigo, já começo a imaginar formas de burla-lo. Passo a imaginar uma série de problemas que poderiam surgir para me impedir de comparecer. E aí, querido Walter, soma-se mais um item do TDAH: a incapacidade de lidar com o tempo. Sempre imagino que o tal compromisso está longe, que até lá muita coisa vai acontecer... E o dia do compromisso chegou; eu não providenciei nada para comparecer, nem me preparei pra não ir. E a tortura começa. Vou ou não vou. Em geral não vou. Marco sabendo que não irei. E agora?
Bem, agora é inventar uma desculpa que impeça mais essa pessoa a desistir de mim.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGente... li o comentário do Walter no post anterior, li esse post agora... Que... que coisa! É a mais pura verdade! rs
ResponderExcluirRealmente a incapacidade de lidar com o tempo, o preparar-se pra não ir, o marcar sabendo-se que não irá e o pânico de ser pego de surpresa sem ter aquela ótima desculpa na ponta da língua que nos salve do infortúnio... Tem vezes que um compromisso futuro trava todo o meu presente... como se eu não fosse ter tempo de começar nada por causa dele... pq esse compromisso vai chegar e vou ter que interromper qualquer coisa que tivesse começado pra cumprir essa responsa... mas naõ quero ir... Arghhhh!!!! E como impedir que desistam de mim se eu mesma não me convidaria mais? rs
Esse comentário e post foram excelentes!
Abs!
É um saco, né Ana? E a sociedade não tem respeito por aquelas pessoas que não querem 'interagir'.
ExcluirAbraços
Alexandre
Li e me identifiquei.
ResponderExcluirMuitas vezes torço para que alguém NÃO me convide a um evento social. Fim de ano é uma tortura, pois as festas não terminam nunca...
Tenho vontade de gritar: "Pare o mundo que eu quero descer!"
Eu sempre torço, Cláudia, sempre torço...
ExcluirAlexandre
Meu presente de "Papai Noel": http://veja.abril.com.br/noticia/saude/comissao-da-camara-dos-deputados-aprova-liberacao-de-anfetaminas
ResponderExcluirPara aqueles que como a mim, não se deram bem com o Metilfenidato e nem com o Venvanse, teremos as anfetaminas liberadas novamente. Chorei quando li, ao pensar que terei minha capacidade de foco e atenção e um maior controle de minhas emoções novamente. Diego.
Interessante essa informação. Isso significa que teremos mais opções à Ritalina?
ExcluirQue sejam bem vindas!
Abração, meu amigo!
Alexandre
GENTE OLHA QUE ABSURDO ESSA MATÉRIA FEITA POR ESSE "jornalista?" ROBERTO AMADO.
ResponderExcluirhttp://www.dm.com.br/texto/154818?update=1
Li a reportagem e não achei nenhum absurdo. Sou professora e tenho observado várias crianças serem erroneamente diagnosticadas com tdah por simplesmente serem crianças. Acho que realmente está havendo uma generalização por conta de alguns profissionais que estão receitando ritalina indiscriminadamente. Durante a infância foi muito difícil pra mim conviver com o tdah, dificuldade de concentração, procrastinação, enfim tudo o que nós já sabemos. Não usei medicamentos durante a infância graças a Deus, mesmo com todas as dificuldades foi a melhor coisa, porque eu consegui desenvolver minha criatividade e experimentar todos os prós que um cérebro com tdah pode me oferecer. Acho que se a criança com tdah consegue absorver os conteúdos e manter uma nota razoável, não deve tomar medicação, deixa pra quando for adulto e tiver que encarar problemas de verdade. Com paciência e dedicação dá pra levar a criança sem medicação na boa. Criança levada, criança respondona, criança criativa, até criança inteligente tem sido diagnosticada com tdah, e nós sabemos que tdah é bem mais que isso. L.
ExcluirQualquer exagero é um erro, inclusive na postura da imprensa. O que precisamos é que as pessoas parem de rotular a Ritalia e o TDAH e passem a encarar a coisa com isenção e profissionalismo. Isso vale para os médicos, os psicólogos, os jornalistas e os professores.
ExcluirAlexandre
tive uma colega, há muitos anos, ela tinha muita dificuldade de atenção, esquecimentos, atrasos, vivia tropeçando e derrubando as coisas....ela também fugia de eventos sociais, encontros e até evitava enturmar com os outros. No caso dela, era medo de dar vexame ou atrapalhar algo... ela dizia " Não quero ir... até já sei que vou estragar tudo..." . Eu também já fui assim, evitar encontros por medo de causar confusão. E quando eu tentava participar, parece que quanto mais medo eu tinha de criar algum constrangimento, aí que dava algo errado. Às vezes acho que esse é um dos motivos pra preferir se isolar.
ResponderExcluirFe
Fe, a questão é um pouco diferente.
ExcluirO Alexandre cunhou a expressão "preguiça de gente" que, por falta de definição melhor, acho correta.
Eu detesto ir à festa: aniversários, batizados, casamentos, formaturas, atc., não porque ache que vou "dar vexame", mas por impaciência, "preguiça de gente" mesmo.
Na minha profissão, como na de todos nós, é cada vez mais importante fazer e cultivar o tal de "net work", ampliar suas relações sociais.
Detesto isto. Porquê? sei lá. simplesmente detesto.
Outro dia minha esposa me relatou a incompreensão/Reclamação de um grande amigo meu, que fez o seguinte comentário: "Poxa vida, Walter me liga diversas vezes para eu vir à casa dele, e agora, quando eu chego, ele conversa comigo 10 minutos e vai cuidar de outras coisas".
É isso aí. Tem um grande escritor (que não vou lembrar o nome, claro), que dizia da suprema felicidade de encher a casa de amigos e ir para o quarto ficar lendo um bom livro.
Vá entender isto. Só sendo TDAH.
Oi Walter... eu entendi... e tenho a preguiça e gente também ... é meu motivo principal pra preferir ficar isolada ds outros... :)
ExcluirFe
Walter, esse tal de Net work me desespera. Não quero nenhuma rede de pessoas, quero paz, sossego e silêncio.
ExcluirQuanto à frase do escritor, amei, adorei, brilhante!
kkkkk
Alexandre
Preguiça de gente, tenho demais isso, hoje tô com mta preguiça de gente.
ResponderExcluirEu tenho uma amiga há mais de 10 anos, fizemos o ensino médio juntas e eu sempre fui mto ausente apesar de gostar mto dela, ela teve um bebê em agosto e até agora eu ainda não fui visitá-la, Eu gosto mto dela, mas eu sempre invento um monte de desculpas na minha cabeça pra não ir visitá-la. E como eu me sinto com isso? Eu sofro mas não consigo mudar essa atitude.
Essa preguiça é quase invencível!
ExcluirOu quem sabe nós não queiramos rompê-la.
Abraços
Alexandre
Estou sem saco, sem paciência pra tudo.Estou cansada de ouvir gente falando, de conversar, de ficar de pé, tem hora que fico sem paciência até pra comer. Essa situação me agonia. Gostaria de sumir, de fugir, sei lá. Mas não porque quero distância das pessoas que amo, não porque não gosto de conversar, mas eu gostaria de fugir de mim, não ouvir minha voz, não me movimentar, enfim, ficar deitada sozinha sem ninguém por perto só respirando, porque isso também não dá pra evitar. Eu acho que muitas das vezes eu não consigo conviver com outras pessoas poque tem hora que eu mesma não quero conviver comigo. Uma vez eu li aqui no blog e assino embaixo "eu não me aceito, apenas me adapto". L
ResponderExcluirOlha, eu acho que adaptar-se é importante, mas aceitar-se é fundamental. Somos TDAH e não foi por escolha, não aceitar-se não nos ajuda em nada.
ExcluirAlexandre
Muito interessante esse post. É bom saber que essa não é uma característica minha, mas do TDAH. Não consigo manter relacionamentos, fujo das pessoas, dos amigos, dos parentes, de todo mundo. Namorar, nem me fale! Passo anos sem estar com alguém, embora sinta muita falta de um companheiro, de preferência parecido comigo.
ResponderExcluirVivo tão ocupada comigo mesma, sempre arrumando eternas desculpas para não aparecer nos aniversários, nos casamentos e em quaisquer outros eventos. Infelizmente as pessoas acabam desistindo de mim, amigos especiais que insistiram tanto e que hoje não me chamam mais para fazer nada, estou mais sozinha do que nunca. Há fases em que estou melhor, mais sociável, tenho mais vontade de sair, mas ultimamente me fechei numa bolha que não tenho mais vontade de ver ninguém. Minha desculpa tem sido o concurso para o qual venho estudando há 1 ano e que está se aproximando. Nesse 1 ano minha vida tem sido dentro da minha toca.
Queria muito passar nesse concurso, mas já estou preocupada com os novos relacionamentos que virão dessa nova vida, não sei se tento começar tudo diferente, tentando ser o mais sociável possível ou se levo a bolha junto quando me mudar de cidade e conhecer novas pessoas. Dúvida cruel. O problema é que geralmente não temos ânimo para tentar mudar isso que nos traz tanta dor, ficamos estáticos enquanto a vida passa.
Sad but true!
Lendo os comentários acima e diversos blogs americanos, me lembrei que li por diversas vezes relatos de pessoas dizendo que precisaram trocar de medicação ou acrescentar uma pequena dose de outra, para que pudessem "quebrar" essa barreira social que o TDAH acaba nos impondo, mas em contra-partida, a própria medicação ( Psicoestimulantes e geral) podem como efeito colateral, dependendo do indivíduo, agravar esse processo de introjeção, de fechar-se e querer isolar-se em si mesmo, além do paradoxal efeito de o deixar cansado,até mesmo causar sono em vários pacientes. Acontece que a grotesca diferença reside no fato de que vivemos em um país de terceiro mundo, onde temos uma absurda limitação de opções medicamentosas para o TDAH. Leio, por exemplo, pessoas que fazem uso do Venvanse duas vezes ao dia e no final da tarde usam uma pequena dose como reforço do Adderall. Acho que vale a pena cada um fazer uma análise de si próprio ( se necessário peça ajuda das pessoas que convivem próximas) para ir observando que comportamentos melhoraram, pioraram, mas principalmente quais traços de sua personalidade foram modificados. Abraço a todos. Diego.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ triste né Cassius?
ExcluirO problema é que se negarmos o compromisso a pessoa vai achar que não gostamos mais dela, e essas coisas.
Aí marcamos, sabendo que não iremos.
E tudo se complica.
Alexandre
http://www.youtube.com/watch?v=YVcNabmtw4A
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=0ybe6BUtiBA
http://www.youtube.com/watch?v=uE0mysIHvvg
http://www.cchr.pt/quick-facts/introduction.html
http://www.youtube.com/watch?v=Tv4BgYFoDdM
http://www.youtube.com/watch?v=rU15DR3GaoU
Estou me tornando um doente crônico; todo santo dia preciso inventar alguma dor para justificar os convites que recebo para sair da minha casa. Pressão subiu, vertigem, cabeça arrebentando de dor, crise de pânico, sinusite, gripe, "deprimido" demais: Tudo mentira, mas é mais fácil do que gastar o meu tempo explicando que é por causa do TDAH - ninguém entende mesmo do que se trata - então já uso os nomes das doenças "populares", assimm entendem logo e me dão sossego. Me alivia muito ler o post e os comentários, porque depois da ceia de Natal, em que as 4 horas em que fiquei foram terríveis: Não dou mais conta dos barulhos variados, de prestar a atenção nos assuntos das pessoas, de ficar quieto um pouco e alguém já virar e perguntar: " Está triste Diego? Vem pra cá!" Sei que a intenção é boa, realmente amo profundamente alguns dos meus familiares, mas não tem Ritalina ou terapia que dê conta de determinadas limitações que o meu quadro grave de TDAH causa. O pouco de disposição física e capacidade de concentração que a Ritalina me dá, tenho que saber gastar e focar nos poucos interesses que eu tenho. Já foi o tempo em que eu me acabava para fazer o "perfeito" para os outros. Quem me ama de verdade, sabe me respeitar. Diego.
ResponderExcluirVocês que tem mais experiencia que eu, e sabem mais sobre o assunto de TDAH: Existe TDAH em cães? Dei uma pesquisada e encontrei muitas coisas a respeito, não sei se é verdade.
ResponderExcluir- http://www.agendapet.com.br/2013/03/caes-hiperativos-saiba-diferencia-los-de-caes-agitados-tratamentos-e-informacoes-importantes.html
- http://www.writers-centre.org/criancas-e-caes-com-tdah.html
Inclusive ja ouvi dizer que há tratamento com ritalina para cães também. Será que procede? pergunto pois se for verdade é surpreendente tudo isso, pois antes pensei que só tdah fosse exclusividade da nossa espécie. Se ocorre em cães provavelmente ocorre em outros primatas e em outros animais.
Obs: ja tive um cachorro, e ele era hiperativo como sou - talvez seja porque tivesse TDAH. Latia tanto que era frequente brigas com vizinhos. Infelizmente ja faleceu - de acidente, como a maior parte dos cães (se tinha TDAH talvez tenha influenciado nisso, pois o cão que eu tinha era distraido, e quando eu chegava ele ia embaixo do carro, foi assim que morreu).
PERFEITOOOOO!!
ResponderExcluirChorei... Parece que era eu escrevendo cada linha. Feliz em saber que isso não acontece só comigo. Muito obrigada! Muito obrigada!
E incrível poder saber que existem milhares de outras pessoas com os mesmos ''problemas'' ou semelhança entre as nossas atitudes,o Tdah unem todos nós e fazem que nós se reconheça um ao outro.
ResponderExcluirMeus conhecidos sempre me dizem''Tu da sumido'',''o que vc ta fazendo da vida?''rs.Não sinto aquela necessidade de me socializar todos os dias,de ver gente todos os dias,quando os encontrou depois de muito tempo converso com eles como se tivesse visto eles ontem,sem a necessidade de verem eles amanha.Esse transtorno é um grande aliado para o fracasso total da nossa vida a socialização e conquistas profissionais.