domingo, 23 de janeiro de 2011
ESCARPAS E ABISMOS; A VOLATILIDADE DO TDAH.
Ontem e hoje não foram bons dias.
Cheguei atrasado a um encontro ontem. Saí de casa com o horário cronometrado, andei um ou dois kilômetros e descobri que havia esquecido a carteira. Até continuaria sem ela apostando que não seria parado em nenhuam blitz da polícia. Só que eu não tinha nenhum centavo no bolso. Nem para pagar o estacionamento. Resultado: voltei para casa em desabalada carreira. Desci do carro correndo e percebi que esqueci, lá dentro, a chave de casa. Voltei para buscá-la.
O pior, ainda em casa, antes de sair, notei que a carteira não estava onde deveria. Dei uma olhada por cima, não a vi, e imaginei que ela estivesse no carro.
Fui confiando nisso, mas não conferi ao entrar no carro. Dancei.
Perdi metade do horário marcado.
Um sentimento de derrota se apossou de mim. Achei que já havia superado esta etapa. Mas, se TDAH não tem cura, creio ser normal esse tipo de situação. Uma escalada íngreme com alguns tropeços e deslizes ao longo da subida. Não posso esperar a perfeição de uma hora para outra, mas fica uma pontinha de decepção.
Hoje meu humor está descalibrado. Vai da mais alta escarpa até o abismo mais profundo. Em pouquíssimo tempo. Aparentemente sem nenhuma razão.
Até então, eu teria creditado toda essa variação aos fatos ocorridos no dia. Mas nada de mais aconteceu hoje. Lógico, não existem dias sem dissabores. Mas nada que justifique uma variação tão grande. Muitas vezes eu me perguntava como meu humor podia variar tanto. Qualquer coisinha me derrubava. Uma tristeza enorme tomava conta de mim. Assim estou eu hoje. Com um predomínio significativo da tristeza. Agora mesmo, eu estava tocando sax o que me deixou em estado de quase euforia. Guardei o instrumento e, parece, que a alegria ficou fechada em seu estojo.
Neste exato momento estou retomando este post, dia 30 de dezembro. Ontem, não consegui postar nada. Este tópico que estou escrevendo ficou inconcluso. O sono me derrotou. Acordei cansado, muito cansado. Andei exagerando um pouco essa semana. O corpo sentiu. Parte dessa tristeza pode ser por isso também.
Estou começando a me sentir confuso por causa do TDAH. Estou alerta para os meus comportamentos, mas nem sempre consigo reconhecer o que é TDAH e o que não é.
Pensando bem, faz alguma diferença? Isso me veio à cabeça agora.
O rótulo é tão importante? Se o comportamento é negativo, precisa ser mudado. Independente de sua "origem".
O importante é permanecer alerta para enxergar o comportamento negativo e trabalhar para mudá-lo.
Olha a escarpa aí, gente!
Pensar nisso me deu um sentimento positivo, um ânimo novo! Já me sinto a meio caminho do cume da montanha mágica.
Olho para baixo, o abismo negro e profundo ficou para trás. Preciso atuar para voltar menos a ele. Ainda não sei como.
Nos últimos dois dias, internamente, silenciosamente, venho solapando a credibilidade da Ritalina. O esquecimento de terça-feira, a abrupta variação de humor de ontem, comecei a perceber que flashs de desconfiança pipocavam em minha mente. Um mecanismo qualquer de desqualificação começava a atuar. Escrevendo esse blog, no parágrafo sobre o TDAH me bateu uma luz. Estava preso ao acessório, enredado nas filigranas, e perdendo de vista o essencial.
Começo a acreditar que estas variações de humor traziam no seu íntimo, bem lá no fundinho, essa desconfiança com o tratamento que me rondava desde o episódio do esquecimento da chave.
Por isso tenho mantido este blog. Escrever o que sinto tem sido de grande auxílio. Consigo enxergar "de fora" o que sinto, o que penso, o que vivencio. Ao colocar "no papel" essa dúvida sobre o que é ou não fruto da TDAH, me dei conta da pequenez da questão. Enquanto eu cuidava das formiguinhas, um bando de elefantes vinha em minha direção. Eu seria esmagado por eles.
Incrível, me sinto mais leve. A sombra que pairava sobre mim vai se dissipando. Nem eu mesmo consigo acreditar em tudo o que aconteceu nesses poucos minutos dentro de mim. A luta interna que está sendo travada na minha cabeça. Quem não assistiu ao filme " O Senhor dos Anéis" não sabe o que vou dizer. Me senti como o Gollum e suas duas personalidades, uma luta contínua para decidir se mataria ou não o Frodo.
Estou pasmo, abismado, com minhas próprias reações. Em questão de segundos me libertei de um sentimento de derrota, de impotência.
Foco, Alexandre!
Mais um comportamento descoberto. Mais uma armadilha reconhecida.
Mais um passo dado.
" Ao infinito e além ! "
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É meu caro, o que não consigo entender é como a vida dos TDA's sao tao parecidas.
ResponderExcluirFelizmente há pessoas que mesmo apanhando tanto, conseguem continuar indo em frente.
Eu estou desistindo dessa briga.