quarta-feira, 6 de março de 2013
RECAÍDAS DO TDAH
Recebo inúmeros comentários entristecidos por recaídas.
São comentários doloridos, frustrados, decepcionados. Alguns até descrentes do tratamento ou do remédio.
O TDAH é incurável.
A Ritalina não é milagrosa. Nem o Concerta. Nem o Venvanse. Nem nenhum outro medicamento.
O tratamento do TDAH é um processo. Um processo de um passo após o outro, entremeados por quedas menores ou maiores.
As quedas fazem parte de qualquer caminho e do nosso também.
Não podemos nos desesperar, nem nos condenar à danação eterna. Precisamos olhar pra trás, enxergar o que nos derrubou e criar estratégias para não incorrer no mesmo erro. Mas consciente de que aquela estratégia que criamos pode não ser infalível. Podemos errar novamente. Por isso é importante um diálogo aberto com nossos médicos, psicólogos e coachs. Precisamos nos cercar de profissionais conscientes do que é um tratamento de TDAH e que nos acolham. O tratamento do TDAH é complexo e duradouro, precisamos de apoio ao longo do tempo. Experimentar novos remédios, novas dosagens, novas formas de terapia, sei lá, se as quedas são maiores do que os passos, é hora de mudar algo na vida. No tratamento.
Não se auto flagele. Não se puna. Cairemos muitas vezes, mas levantaremos quantas vezes forem necessárias. Essa é a maravilhosa contradição do TDAH, a doença que nos derruba é a mesma que nos dá força para reerguemo-nos. Né meu amigo Frank!
Não nos atiremos do abismo, nós seremos a única vítima.
Outra coisa, como diz minha coach, Luciana Fiel, vida é carreira solo. Não espere apoio da família ou dos amigos, em geral ninguém entende o que é o TDAH e nem dão muita importância a ele. Preferem nos encarar como aqueles irresponsáveis que eles amam, e ignoram nossa luta contra a doença.
Trate-se apesar da sua família.
Os benefícios serão seus, a sua vida vai mudar.
Vivo me boicotando, me auto sabotando, procrastinando e levando ferro por isso, mas hoje enxergo isso e não me puno. Tento reverter esses erros, tento não os repetir e sigo em frente.
Pense no seguinte: antes do tratamento você cometeu erros escandalosos e seguiu, agora, esses erros são menores, mais suaves, não vai ser agora que você vai retroceder ao estágio inicial e atirar todo o esforço feito até aqui.
Esqueceu? Anote.
Não leu a anotação? Ponha um aviso sonoro, ou piscante, ou peça alguém pra te lembrar.
Falou o que não deveria? Peça perdão, abra sua alma e mostre que apesar do seu esforço, ainda falha.
Adiou? Cumpra com atraso. Foi irreversível? Então esqueça, você não pode mudar o passado. Use como exemplo não como tortura.
Foi impulsivo demais? Retroceda. Não dá pra retroceder? Esqueça, já passou. Não dá pra esquecer? Use como aprendizado, não como tortura.
Chega de se auto prejudicar, se auto flagelar, se auto punir.
Os 'trouxas' - como dizem no Harry Potter sobre quem não é bruxo - também esquecem, também falham, também perdem a cabeça, por que nós não podemos?
Todos erramos, trouxas ou TDAHs, portanto, saiba diferenciar o erro da doença.
Analise se ali onde você errou outras pessoas poderiam ter errado e bola pra frente.
A vida é pra frente, pra trás é aprendizado.
TDAH é doença e, portanto, pode ter recaídas.
E nós não somos perfeitos, nem os trouxas.
Ao infinito e além!
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Não posso nem dizer o quanto foi importante pra mim ler isso agora de manhã. Já tem um tempo que queria comentar isso, seu blog dá muita força viu, pra muita gente, tenho certeza. Pra mim, sei que dá mesmo. =) Obrigada.
ResponderExcluirOlá Alexandre, mais uma vez gostaria de lhe parabenizar pelas sabias palavras. Acompanho o blog já faz aproximadamente 1 ano. Quando não estou bem, entro no blog e sempre tem um ensinamento, poesia ou testemunho, que faz melhorar meu dia.
ResponderExcluirNão faço tratamento medicamentoso e nem comportamental, então nem sei dizer se tenho recaídas, rsrs. Só sei que tem dias que não suporto a mim mesmo. E o pior de tudo é não ter alguém ao seu lado que lhe compreenda e apoie, principalmente familiares e amigos.
No ensejo gostaria de compartilhar uma poesia que encontrei esses dias e remete muito a nós TDAHs.
DUALIDADE
(Inez Alvarez)
Tem vezes que sei o que quero
Em outras percebo que não.
Por um beijo as vezes espero
Em outras é pelo aperto de mão.
As vezes quero ser esquecido
Em outras preciso ser lembrado.
Passar as vezes despercebido
Em outras passar sendo notado.
Quero sentir, por vezes, o ar da noite
Em outras preciso ver o sol brilhar
Tem vezes que só quero o pernoite
Em outras tantas preciso morar.
Obrigado, e até o próximo post!
Como é possível viver uma "nova" vida com tantos erros GRAVES deixados para trás? Como é possível colocar a cabeça no travesseiro a noite tranquilamente sabendo que um dia fez coisas que doença nenhuma justifica?
ResponderExcluirTDAH não é motivo pra fechar os olhos para os problemas que possa ter causado, muito menos uma desculpa. Para ser considerado um nova pessoa, a "antiga" não pode deixar pendências que prejudiquem a vida de outras pessoas. O novo "eu" só pode deixar pra trás aquilo que consertar.
O diagnóstico que teoricamente "abre os olhos" é enganoso. Erros que atrapalharam a vida de outras pessoas, não podem ser simplesmente esquecidos, isto está no caráter, e não em um "doença".